“A partir da obra de Herberto Helder cria-se um espetáculo de teatro cuja dramaturgia é construída unicamente” sobre “os seus textos e poemas”, afirma em comunicado a Cornucópia.
“Através da voz e do corpo do ator e de um diálogo íntimo com o músico Cristóvão Campos, acredita-se que a imagética, a musicalidade, o ritmo impresso nos textos e poemas, tornem real um outro entendimento” destes, “não na tentativa de os explicar, ou de os resolver, mas de os pensar e receber de uma forma diferente”, lê-se no mesmo documento.
A peça, que propõe procurar a poesia de Herberto Helder em palco com os espetadores, estará em cena até 06 de novembro, em regime de “acolhimento” pelo Teatro Cornucópia no seu espaço, o Teatro do Bairro Alto, ao Príncipe Real, em Lisboa.
A direção e interpretação são de Dinarte Branco, a composição musical e interpretação em cena, de Cristóvão Campos, a cenografia, de Paulo Oliveira, e, os figurinos, de Cristina Homem de Gouveia.
Herberto Helder morreu na noite de 23 para 24 de março do ano passado, na sua casa, em Cascais, e foi recordado, na ocasião, pelo meio literário e político como o “mago da palavra”, poeta “vulcânico” que se remeteu ao silêncio, mas cuja obra deixa marcas na literatura portuguesa.
Discreto, avesso ao lado mais mundano da vida literária, sobrevivem-lhe mais de cinquenta obras, sobretudo poesia, que o inscrevem no reservado espaço dos maiores poetas de Língua Portuguesa.
Autor que “fugiu à banalidade”, Herberto Helder foi um “mago da palavra” que “tirou magia em tudo que tocava”, afirmou, no dia da sua morte, o catedrático de Literatura Arnaldo Saraiva.
Um poeta inovador que criou “uma nova linguagem, que é verdadeiramente mágica e esplendorosa”, acrescentou o jornalista José Carlos Vasconcelos.
Nascido na Madeira, em 1930, Herberto Helder viveu quase sempre no continente, desde a adolescência, teve vários ofícios – operário, repórter de guerra, editor, empacotador, bibliotecário -, mas o da escrita foi o mais constante, desde que publicou o primeiro livro, “O Amor em visita”, em 1958.
O crítico Pedro Mexia identifica-lhe uma apropriação da palavra sem desconfianças, ironias ou cinismos e considera-o, por essa força verbal, o maior poeta da segunda metade do século XX, tal como Fernando Pessoa o foi no começo daquele século.
Após a sua morte, foi publicado o último livro organizado pelo autor, “Poemas canhotos”, seguindo-se, este ano, em março, “Letra aberta”, livro de inéditos.
Quando da publicação deste título, a Porto Editora disse que tinha em curso a digitalização do espólio do escritor.
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