“Efetivamente, temos reconhecido ao longo das duas edições [do programa PARTIS (Práticas para a Inclusão Social)] já desenvolvidas que muitos destes projetos acabam por encarar um desafio grande na saída do financiamento da fundação, que é a três anos”, afirmou o gestor de Projetos no Programa de Coesão e Integração Social da FCG, Hugo de Seabra, em declarações à agência Lusa.

Na primeira edição do PARTIS (2013/2016) foram apoiados 17 projetos, entre mais de 200 candidaturas, na segunda (2016/2018) 16, de 160 projetos recebidos.

O apoio do programa é a três anos, “exatamente para tentar cimentar as práticas e as próprias parcerias”.

“Ainda assim alguns projetos acabam por enfrentar dificuldades, acabam por fazer diminuições da capacidade de intervenção no terreno”, disse Hugo de Seabra, salientando haver outros “que acabam por conseguir manter estas práticas, porque conseguem diversificar as suas fontes de financiamento”.

O responsável explicou que a FCG “não apoia projeto nenhum no quadro do PARTIS acima de 60%”. “Ou seja, logo à partida os projetos já estão obrigados a trazerem parcerias consigo”, afirmou.

Depois da primeira edição, “com esta questão presente, a FCG foi trabalhando os 16 projetos selecionados nesta edição alertando para aquele momento em que a fundação termina o seu apoio, também porque, no dia em que abriu a porta a estes projetos, teve de largar outros”.

Ao longo dos três anos, a fundação “tem sempre tentado dar algumas ferramentas” e “tem-se sempre disponibilizado para fazer reuniões com potenciais futuros apoiantes do projeto – aqui há um reconhecimento essencial que tem de ser feito aos municípios, principalmente [no caso dos] projetos mais afastados das grandes urbes”.

“É preciso não esquecer que um apoio em género (transportes, espaços físicos, recursos humanos) é também muito significativo e por nós muito valorizado”, afirmou Hugo de Seabra.

Com este programa, a fundação reforçou “a crença absoluta em que a dimensão das artes, a dimensão das práticas artísticas tem um contributo ou pode ter um contributo absolutamente excecional para trabalhar com pessoas em situação de maior vulnerabilidade social”.

Lembrando que “neste momento a FCG, através do PARTIS, é talvez o maior e o único financiador nestes domínios”, a fundação acredita “estar a trabalhar no sentido de isso deixar de acontecer”, ou seja, de poderem vir a aparecer outras entidades a seguir o seu exemplo.

No entanto, “enquanto a FCG acredita que está a preencher um vazio ao nível de financiamentos na sociedade portuguesa, está disposta a assumir estes apoios”.

Este fim-de-semana, são apresentados, na sede da fundação, em Lisboa, alguns dos projetos apoiados na segunda edição do programa, que incluem trabalho com adolescentes que vivem em centros educativos, crianças refugiadas ou pessoas com deficiência.

“Apoiamos projetos a 36 meses, porque acreditamos que é no processo de trabalho com as pessoas mais expostas à vulnerabilidade social que a mudança acontece. E dentro desse processo é muito importante que eles tenham a possibilidade de apresentarem aquilo que estão a fazer”, referiu.

Hugo de Seabra destaca que o PARTIS “tem a particularidade de não definir um foco específico”.

“Deixamos que o terreno nos diga o que é necessário e não impomos ao terreno aquilo que achamos que é necessário – e daí vêm projetos absolutamente extraordinários e surpreendentes, como trabalhar o circo em contexto de reclusão ou trabalhar uma dimensão da música com pessoas com deficiência”, disse.

Na terceira edição (2019/2021), foram escolhidos 15 projetos (de 132 candidaturas) “bastante diversos também nos seus públicos-alvo”.

“Pela primeira vez vamos ter dois projetos muito focados na mulher, mas continuamos a focar temáticas como a deficiência, a reclusão, as minorias étnicas. E temos propostas que, mais uma vez, nos surpreendem”, adiantou.

Desta vez, os projetos voltam a chegar de “várias geografias do país”, embora a FCG não esteja “feliz em absoluto com a distribuição em termos geográficos”.

“Continuamos a estar muito ‘litoralizados’ e focados nas grandes urbes. Sabemos que é aí que estão muitas das problemáticas nacionais, mas não é só aí. E nesse sentido estamos a tentar ajudar e capacitar estruturas mais do Interior”, disse.

No futuro, a FCG espera que “mais cedo do que mais tarde, qualquer estrutura cultural em Portugal, tal como hoje em dia não questiona a existência dos seus serviços educativos – quando se monta uma estrutura cultural em Portugal, o serviço educativo é uma parte como qualquer outra” – inclua o trabalho com as comunidades.

“Gostaríamos que, num futuro próximo, tal qual como com os serviços educativos, [as estruturas] também considerassem o trabalho com as comunidades como algo perfeitamente normal na [sua] programação anual. É essa a grande visão da fundação”, afirmou.

O programa, de acordo com o responsável, tem tido alguma visibilidade a nível internacional, “não apenas num mundo fundacional – há fundações internacionais muito interessadas na realidade do PARTIS -, mas também algumas estruturas que estão atentas, porque querem desenvolver estas iniciativas, públicas ou privadas, mas que também não sabem muito bem por onde se guiar”.

A programação completa e os horários da mostra "Isto é PARTIS", de entrada gratuita, podem ser consultados no ‘site’ da FCG.