“A grande clivagem que se joga nas eleições europeias é hoje evidente, e a crise política sobre as migrações anunciou-a”, assinalou o chefe de Estado francês, que participou esta manhã, com o primeiro-ministro António Costa, na conferência “Os desafios da Europa – Encontro com os Cidadãos”, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
“É um debate entre os extremos, os nacionalistas, os que defendem a fratura europeia, com a cumplicidade do ‘status quo’, e os progressistas europeus, os reformistas, que pretendem reformar a Europa profundamente”, alertou Macron no final da sua intervenção inicial.
Numa intervenção que se prolongou por cerca de 15 minutos, Macron assinalou o “momento inédito” que atravessa o continente europeu desde há 70 anos, o final da Segunda Guerra Mundial, e sublinhou a necessidade profunda de “refundar” a Europa, uma ideia que já tinha sido assumida por António Costa.
“Os meses que estão à nossa frente são absolutamente essenciais. As eleições de maio de 2019 vão ser decisivas, porque vão estruturar o Parlamento europeu, e as principais instituições europeias, que vão ser recompostas após estas eleições”, assinalou.
Recordou também ter defendido a “ideia de listas transnacionais” no âmbito das suas propostas para permitir o que surge como um renascimento europeu em tempos de crise.
“Deixámos que a voz dos extremos se impusessem (…) deixámos que a ideia de democracia fosse transportada pelos extremos”, lamentou Macron, que apontou os desafios a curto prazo como fulcrais.
“Nos próximos cinco anos vai jogar-se o futuro da nossa Europa”, insistiu, num desafio que implica a concretização “de uma reforma profunda com base no que discutimos e preparámos”.
No início da sua intervenção e perante um Anfiteatro quase repleto, o chefe do Eliseu recordou o “inédito espaço de paz, prosperidade e liberdade” que caracteriza a Europa desde o final do último conflito mundial, mas reafirmou a necessidade de uma “refundação” que deverá assentar em três vetores, incluindo a construção de uma “Europa da Defesa” que registou “progressos assinaláveis” nas últimas décadas.
O desafio das migrações foi outro tema obrigatório na sua alocução, para sugerir uma “abordagem europeia, uma política comum face aos países e trânsito e aos países de origem, uma política comum para proteger as fronteiras europeias e uma política comum em termos de solidariedade”.
Na esfera económica, o Presidente francês referiu-se à necessidade de uma “verdadeira política de pesquisa e inovação”, incluindo nas áreas da energia e ambiente e, demonstrando total convergência com António Costa, pugnou por uma Europa mais solidária.
“Também precisamos de uma Europa mais unida. A crise económica e financeira implica mais convergência e solidariedade. Saímos desta crise muito tarde, de forma muito difícil, e Portugal também pagou, com custos a níveis económicos e sociais inéditos desde o final da Segunda Guerra Mundial”, sublinhou.
A importância de garantir “uma política de responsabilidade de cada Estado, e uma verdadeira política de convergência económica e financeira” foi outro vetor enfatizado por Macron, na perspetiva de uma União Europeia, e de uma zona euro, mais funcional e equilibrada.
“Por isso, defendo um orçamento da zona euro, uma política de estabilidade, de investimentos conjuntos, e que impeça os que já estão em melhor situação garantirem mais vantagens”, disse.
A convergência social, sanitária, alimentar, ambiental e “que são o fundamento desta Europa”, a aposta continuada na cultura e a educação que “também permitirão uma Europa mais unida”, e a garantia de concretização de um projeto “a nível de chefes de Estado e de Governo no caminho de profundas transformações, porque esses desafios vão decorrer nos próximos anos”, foram ainda outras sugestões deixada pelo Presidente francês.
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