Em declarações aos jornalistas na manifestação do 1º de Maio da CGTP, em Lisboa, Catarina Martins foi questionado sobre o que considera ser mais “urgente e necessário”, uma das palavras de ordem da marcha.

“Há duas exigências fundamentais que toda a gente que trabalha em Portugal sente. A primeira é que os salários sejam atualizados pela inflação, a inflação está a comer os salários, está a comer as pensões num país que já tem os salários mais baixos da Europa”, lamentou.

A coordenadora do BE apontou ainda “uma segunda luta fundamental”, a do tempo de trabalho.

“Em Portugal, generalizam-se as horas longas, o trabalho por turnos, o trabalho noturno, cada vez se trabalham mais horas por um salário tão pequeno”, lamentou, defendendo ser necessário “respeitar quem trabalha, os seus horários e a sua saúde”.

Quanto à perda de poder de compra, a coordenadora do BE referiu que “as rendas subiram 75% nos últimos anos” e contestou que não seja possível subir salários.

“O Pingo Doce aumentou 50% os seus lucros no ano passado, os administradores das grandes empresas aumentaram as suas remunerações em 90%, estão a ser distribuídos milhões em dividendos a acionistas e quem trabalha vê o seu salário e pensão a serem encolhidos pela inflação”, lamentou.

Questionada se o BE vai apresentar propostas nesta área na especialidade da discussão do Orçamento do Estado, a coordenadora bloquista assegurou que o partido “nunca deixa de se empenhar”, mas criticou o ponto de partida do Governo.

“Não é aceitável o Governo dizer que apresenta o mesmo Orçamento do Estado que tinha em outubro porque ganhou eleições. Em outubro ninguém sabia que a inflação ia estar como está hoje, em janeiro quando as pessoas foram votar seguramente não sabiam que os preços iriam subir quatro vezes acima do aumento dos salários”, criticou.

Catarina Martins acusou o Governo português de, no contexto europeu, ser “o único que acha que tem de cumprir a meta do défice”.

“Parece nos injustificável e é um ataque aos salários, às pensões e ao Estado social em Portugal porque os serviços públicos continuam com o mesmo orçamento, mas também vão comprar tudo mais caro”, alertou.

O Dia do Trabalhador comemora-se hoje por todo o país com a CGTP a promover iniciativas em mais de 31 localidades do país e a UGT um debate sobre os desafios do mundo laboral, em Lisboa.

Nos últimos dois anos, devido às restrições relativas à pandemia da covid-19, a CGTP não desistiu de assinalar a data na Alameda, embora apenas com cerca de um milhar de manifestantes, devidamente distanciados.

Este ano, a Intersindical volta a fazer o tradicional desfile na capital, a partir da praça do Martim Moniz até à Alameda, onde ocorre o comício sindical, assim como a manifestação do Porto, na Avenida dos Aliados.

O 1.º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, teve origem nos acontecimentos de Chicago de há 136 anos, quando se realizou uma jornada de luta pela redução do horário de trabalho para as oito horas, que foi reprimida com violência pelas autoridades dos Estados Unidos da América, que mataram dezenas de trabalhadores e condenaram à forca quatro dirigentes sindicais.