“Não há tempo a perder. 1% do Orçamento do Estado salva mil cornucópias. Lutemos por isto. Exijamos este compromisso”, lê-se na carta a entregar à DGArtes, na véspera da apresentação a este organismo dos Planos de Atividades para a extensão dos contratos de apoio às artes.

Intitulada “1% salva mil cornucópias”, no documento, referindo-se à intervenção do Presidente da República, junto do ministro da Cultura, no passado dia 17, afirma-se: “Preferíamos que o Presidente da República se tivesse indagado publicamente sobre como foi possível, décadas a fio, sucessivos governos desrespeitarem a Constituição e terem ativamente contribuído para o definhamento do tecido social da criação artística em Portugal”.

Na missiva, disponível em http://umporcentosalvamilcornucopias.blogspot.pt/2016/12/carta-aberta.html?spref=fb&m=1, afirma-se que “é cada vez mais frequente vermos estruturas e projetos a encerrar ou a prosseguir à custa da descaracterização profunda do seu projeto artístico”.

“Quem seguiu o trajeto de desinvestimento público na criação artística sabia bem que os atos resultariam em empobrecedoras consequências, o encerramento da Cornucópia é uma das mais visíveis”, lê-se no documento assinado por cerca de 330 personalidades, entre elas, a fadista Ana Moura e o músico Sérgio Godinho, os cantores líricos Armando Possante e Catarina Molder.

Para os subscritores, “o esvaziamento contínuo da criação artística conduz a um consequente empobrecimento da sociedade e da sua capacidade de expressão”.

Argumentam que há “um cada vez maior consenso na necessidade de reforço substancial do financiamento da atividade artística” e que este não é motivado “por mero capricho”, reconhecendo que “muito há a fazer para lá dos números”.

Todavia, realça-se no texto, que o financiamento da atividade artística “é a única forma de garantir que a criação e fruição culturais, tal como o exige a letra da Constituição, são acessíveis a todas as pessoas neste país, independentemente da sua condição social, vivendo nos centros urbanos ou na mais recôndita aldeia”.

Segundo o documento, assinado também pela atriz e encenadora Fernanda Lapa, a cantora Lara Li, e o músico e sindicalista Luís Pacheco Cunha, "por mais que haja quem diga que muito há a fazer para lá dos números - e há -, enquanto a questão primordial do financiamento não for resolvida, teremos sempre esse muro imenso a separar-nos da possibilidade de levar a cabo tranquilas e detalhadas análises de fundo que possam lançar as bases para decisões sus6tentadas e informadas sobre o serviço público de cultura que gostaríamos de ter”.

As personalidades subscritoras afirmam-se unidas pela “necessidade de manter abertas as portas das estruturas de criação existentes e de criar as condições para o aparecimento de outras portas” e consideram “abomináveis os fins prematuros" a que se tem assistido.

Os subscritores contestam ainda que “a precariedade, os baixos salários, o trabalho não-remunerado e a negação de tantos direitos laborais sejam a forma de sustentar a atividade artística”.