Para o diretor do jornal, Vítor Silva, que assina o editorial, "os povos das ex-colónias portuguesas devem aproveitar a bravura e a determinação que tornaram possível o derrube da ditadura portuguesa, transformando-se numa força ativa para a construção de sociedades mais desenvolvidas, mais inclusivas, mais modernas e de bem-estar para todos".
No editorial, intitulado "A Revolução dos Cravos", a propósito de as celebrações do 45.º aniversário do "25 de Abril", o editorialista considera que a mudança de regime em Portugal é "um dos marcos do processo das lutas de libertação nacional dos países africanos de língua portuguesa e de erradicação da ditadura" portuguesa.
"O movimento político e social foi uma espécie de 'um bem, que veio para bem', na medida em que serviu não apenas para livrar as antigas colónias das amarras que as ligavam a um sistema retrógrado, mas também livrava os portugueses. A data, na verdade, foi o culminar de um conjunto de ações antiditadura, desencadeadas pelos movimentos e iniciativas que, dentro e fora de Portugal, clamavam por reformas que resvalariam na democracia em Portugal", lê-se no editorial.
Para Vítor Silva, esse movimento político e social surgiu "fundamentalmente, como consequência da pressão que os movimentos nacionalistas em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau submeteram o poder colonial, levando a transformar a guerra colonial numa causa perdida para a então potência colonial".
"Não se pode perder de vista este último quesito, a pressão militar que os movimentos nacionalistas africanos impunham ao antigo poder colonial. Não é exagerado dizer que, independentemente das contradições internas em que se encaminhava o poder colonial, com a manutenção da inteira população portuguesa sob o jugo ditatorial, foi vital o recurso à luta armada para acelerar o derrube do poder colonial na 'África lusófona'", acrescentou.
O diretor do Jornal de Angola defende também que "não restam muitas dúvidas" que foi "sobretudo pela consciencialização de que a guerra nas colónias estava completamente perdida, que a estrutura de poder que sucedeu à ditadura ganhou coragem para avançar com as reformas".
"O tempo ajudou a dar razão aos que se colocaram do lado certo da História, numa altura em que os ventos que sopravam um pouco por todo o mundo favoreciam o processo de descolonização que, na África lusófona, pecava por tardio, mais por insistência do poder colonial que seguia em contramão numa estrada de onde todas as outras ex-potências, há muito, se tinham desviado", sublinhou.
Vítor Silva ressalva que, num dia como o de hoje, "há razões mais do que suficientes para observarmos e celebrarmos um marco importante na caminhada que as ex-colónias portuguesas fizeram para a sua emancipação completa.
"A ditadura em Portugal, nos seus últimos dias, tornou-se insustentável e as colónias não pretendiam continuar uma espécie de fatura que resultava da teimosia e da falta de uma leitura correta dos ventos da História. Os efeitos negativos que aquele estado de coisas causava a Portugal, numa altura de desgaste económico, político e social, permitiu que as causas internas se levantassem contra a máquina monstruosa do colonialismo e da ditadura a favor de reformas e da independência para as colónias", escreve o editorialista.
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