“Estamos a chegar às 08:00 de cada dia sem nenhuma vaga no hospital”, disse Nelson Pereira, que, em declarações aos jornalistas junto ao serviço de urgência deste hospital, explicou estar em causa a ativação do nível 3 do plano de contingência, algo a decidir até ao fim de semana.

“Não podemos chegar ao fim de semana sem tomar essa decisão: ou para um lado ou para o outro. Mas a situação é grave”, referiu.

Ativar o nível 3 do plano de contingência significa dar a possibilidade aos serviços para interromperem a atividade programada – consultas e cirurgias - até 20%.

Nelson Pereira garantiu que essa situação “ainda não aconteceu”, mas, ainda que desejando “muito" que não venha a acontecer, considerou “premente estar preparado”, porque “não se perspetiva que nos próximos dias venha a acontecer um alívio da situação epidemiológica”.

“A situação nos últimos 10 dias agravou-se significativamente. O serviço de urgência tem sido particularmente castigado. Estamos a bater recordes sucessivos. Nos últimos dias tivemos 50% de positividade nos nossos testes”, contou.

O serviço de urgência do Hospital de São João admitiu na segunda-feira 946 doentes e a taxa de positividade ao SARS-CoV-2 foi de 50%.

Atualmente, neste hospital estão internados cerca de 80 doentes com covid-19, 10 dos quais em cuidados intensivos.

O diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva contou que cerca de 200 profissionais deste hospital estão ausentes por estarem infetados.

Questionado sobre como é que o hospital está a gerir a ausência dessas centenas de profissionais, Nelson Pereira deu o seu exemplo pessoal, contando que, em 10 dias, está a cumprir a quinta noite no serviço de urgência, e foi direto ao exigir medidas nacionais.

“É preciso trabalhar mais. Ponto final. Temos de dar a resposta que a comunidade precisa e nos exige. Exigimos também alguma antecipação e algum planeamento que possa aliviar quem está, de facto, na linha da frente”, referiu.

Lembrando que o São João tem sido, na gestão desta pandemia, “uma espécie de farol” do que se vai passando no país, o diretor reiterou que a situação atual é “grave” e disse ter nota de que “os hospitais da região Norte já estão a sofrer esta pressão”.

“Há dois dias, de forma unilateral, o Hospital de Santo António [no Porto] recusou doentes covid porque já não tinha vagas”, contou.

Sobre o perfil dos doentes internados, Nelson Pereira descreveu que a doença está a atingir todas as faixas etárias, depois deste novo pico ter começado há cerca de duas semanas pelos mais jovens.

“Mas está a progredir para as faixas etárias mais idosas”, avisou.

Em enfermaria, disse, os doentes estão a permanecer, em média, sete dias. Já no que se refere a cuidados intensivos, a média é superior e varia conforme a gravidade dos casos.

Na terça-feira, a administração do Centro Hospitalar e Universitário de São João avançou que já tinha aberto uma nova enfermaria para covid-19, um aumento de capacidade que Nelson Pereira disse hoje que pode não ficar por aqui, porque “a todo o momento se têm de tomar decisões novas devido à pressão”.

“Não estamos numa situação epidemiológica mais difícil. Nós temos um problema de gestão e por isso é necessário planeamento e antecipação para não sermos surpreendidos, como estamos um bocadinho outra vez a ser”, concluiu.

Acesso generalizado a testes

“Não tenho dúvida nenhuma da necessidade de generalizar o acesso aos testes para que os serviços de urgência, que são neste momento o ponto mais fulcral desta pressão, possam ser aliviados”, disse Nelson Pereira. O médico recomendou às autoridades nacionais de saúde “uma análise muito detalhada e refletida sobre o que está a acontecer”.

“Enterrar a cabeça na areia não faz sentido”, referiu.

No Hospital de São João estão internados cerca de 80 doentes com covid-19, dos quais 10 em cuidados intensivos.

Nelson Pereira apontou que “a situação epidemiológica não é mais difícil”, mas falou em “problema de gestão”, razão pela qual pediu “mais planeamento e mais antecipação”.

“Com isto não quero apontar nenhuma medida específica, mas claramente dizer que, pelo menos na região Norte e no nosso hospital - que costuma ser um farol relativamente à situação nacional -, a situação é de agravamento e justifica a ponderação de algumas medidas”, afirmou.

Num momento em que o Hospital de São João está a equacionar ativar o nível 3 do plano de contingência, decisão que tomará até ao próximo fim de semana e que pode implicar a interrupção de 20% da atividade programada, o diretor admitiu que “neste momento está a ser extremamente difícil garantir em tempo útil o atendimento com qualidade a todos os doentes”.

“É algo que não queremos deixar de fazer”, desabafou, apelando à tomada de medidas generalizadas que permitam atenuar a pressão, que diz saber que “vários hospitais estão a sentir”.

Falando em “máximos históricos” de admissões no serviço de urgência e em “equipas extremamente cansadas”, Nelson Pereira disse que não gosta da expressão “linha da frente”, mas decidiu usá-la hoje porque em causa está “aliviar quem está, de facto, na linha da frente”.

“Gerar equilíbrios ao nível hospitalar é muito difícil numa altura em que a resposta que as pessoas têm para poderem testar e fazerem o seu caminho para gerir a sua própria doença está diferente do que foi no passado”, analisou.

Na semana passada, também em declarações aos jornalistas para dar nota de um recorde de admissões no serviço de urgência, 1.022 doentes em 24 horas, que “já preocupava” o hospital, Nelson Pereira pediu “coerência” nas medidas relacionadas com a covid-19, lembrando que os testes deixaram de ser gratuitos e que o abandono da máscara coincidiu com momentos festivos.

Em 10 de maio, em resposta à pergunta sobre se tinha receio que este cenário piorasse, o especialista foi perentório: “Não tenho dúvida nenhuma que pode acontecer”.

segundo dados divulgados na terça-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), a linhagem BA.5 da variante Ómicron tem apresentado uma frequência relativa "marcadamente crescente", estimando-se que já seja dominante em Portugal.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) já admitiu que essa linhagem, que apresenta várias características genéticas consideradas de interesse pelos especialistas, caso de mutações com impacto na entrada do coronavírus nas células, pode ser mais transmissível do que a BA.2, mas ressalvou que ainda não existem dados que comprovem que provoca covid-19 mais grave.

(Artigo atualizado às 11:47)

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