"A nossa resposta à pandemia foi francamente má, e basta comparar com outros países, a nossa taxa de mortalidade por covid-19 foi muito mais elevada e evidentemente que isto nos vai ter que fazer pensar e repensar todo o modelo de organização do sistema de saúde”, disse Alexandre Lourenço, que falava à agência Lusa a propósito do aparecimento do primeiro caso de covid-19 em Portugal, em 02 de março do ano passado.

Na sua opinião aprenderam-se “muitas coisas” com a pandemia, mas muitas delas com “resultados negativos” como a mortalidade excessiva que, defendeu, deve ser estudada e identificada para que se possam desenvolver medidas e “respostas capazes”.

"Não basta dizer genericamente que são as ondas de calor ou as ondas de frio”, alertou.

“Evidentemente que isto nos vai ter de fazer pensar e repensar todo o modelo de organização do sistema de saúde”, sublinhou, apontando a existência de “uma debilidade muito grande” nos vários órgãos de gestão.

Deu como exemplo a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), afirmando que é “organismo mais importante” do Ministério da Saúde, mas que está “sem quórum, sem capacidade deliberativa desde outubro do ano passado”.

Contactado pela Lusa sobre esta questão, o Ministério da Saúde adiantou que mandato do conselho de administração da ACSS terminou em 31 de dezembro de 2020 e que, neste momento, o processo de nomeação do conselho de Administração da entidade se encontra “em curso de acordo com a tramitação legal”.

Alexandre Lourenço também apontou críticas à coordenação de meios a nível regional e nacional, considerando que "o grande problema é de organização e de ter as estruturas de coordenação destes meios".

“Tem sido dito por várias partes desde o início que é necessário planear e coordenar e isso ficou muito aquém do necessário para este desafio que certamente era o maior para o Serviço Nacional de Saúde de sempre”, salientou.

Na sua opinião, “perdeu-se muito tempo” a debater se se ativavam os meios dos setores social privado e hoje estão lado a lado.

“Perdemos meses em questões menores quando a questão maior era atender às necessidades de resposta à pandemia e especialmente da resposta a doentes não covid-19”, disse, acrescentando: “Se hoje já temos uma resposta mais alargada a questão que fica é porque é que esta resposta não foi preparada de uma forma mais atempada”.

Sobre a resposta a doentes covid-19, afirmou que “grande parte da situação” vivida no último mês podia ter sido evitada, percebendo-se quais eram os meios que estavam à disposição e quais é que seriam as linhas vermelhas após as infeções.

“Evidentemente que a resposta nacional dependeria sempre da capacidade que nós tivéssemos para internar doentes” e essa capacidade era limitada.

Em função das necessidades, as camas de cuidados intensivos foram aumentando, um esforço feito à custa do adiamento da resposta assistencial não urgente e dos profissionais de saúde.

“Os profissionais de saúde estão a fazer horas extraordinárias como nunca fizeram e, apesar de terem sido contratados mais profissionais, evidentemente que os mais treinados são os que estão na linha da frente e são aqueles a quem nós pedimos mais e que estão muito fatigados, cansados, frustrados com toda esta forma de gerir a pandemia”, lamentou.

Apesar de não ter dados concretos, Alexandre Lourenço disse que está a haver mais absentismo do em igual período de 2020, o que está relacionado com profissionais que ficaram infetados ou em quarentena e outros que têm que dar apoio à família com o fecho das escolas e por motivo de doença.

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