Em declarações à agência Lusa, António João Veríssimo, do Movimento Cívico de Agricultores do Baixo Alentejo, indicou que as notificações da GNR e da PSP, presenciais e por carta registada, começaram a chegar há pouco mais de uma semana.
“São os autos que foram levantados aos tratores que estavam no protesto na estrada nacional que liga Vila Verde de Ficalho a Rosal de la Frontera [Espanha] e notificaram os proprietários para prestarem declarações”, adiantou.
António João Veríssimo disse ter conhecimento de que, até agora, “foram notificados 22 agricultores”, estranhando o motivo pelo qual foram estes os notificados quando no protesto “estariam lá à volta de 300 máquinas”.
O agricultor Luís Pôla, um dos que foi notificado, contou à Lusa que recebeu uma carta da GNR dirigida à sua empresa agrícola, como proprietária do trator, para o responsável comparecer no posto de Serpa.
No posto da GNR, Luís Pôla disse ter sido confrontado pelos militares com uma fotografia em que aparecia o seu trator e os de outros na estrada, limitando-se a confirmar que o veículo era seu e que ele próprio era o condutor.
“Assumi aquilo que fiz e já não prestei mais declarações”, frisou este agricultor, realçando que foi informado pela GNR de que tinha sido constituído arguido e ficado com termo de identidade e residência.
Nas declarações à Lusa, António João Veríssimo, do Movimento Cívico de Agricultores do Baixo Alentejo, lamentou que alguns manifestantes tenham sido identificados, frisando que as autoridades devem ter em contas os motivos dos protestos.
“Tentámos pela via diplomática e todas as vias foram esgotadas, as associações voltaram-nos as costas, o Ministério da Agricultura não nos ouvia e todos diziam que não era possível o pagamento das ajudas em falta”, realçou.
Considerando que a tutela é que devia estar no lugar dos agricultores notificados, pois “falhou ao compromisso assumido”, António João Veríssimo insistiu que se deve perceber “o porquê desta ação e o desespero em que se encontravam os agricultores”.
Durante os protestos, sublinhou, “não houve danos no património nem tumultos, foi deixado um cordão de segurança e passavam ambulâncias e pessoas idosas e todos testemunharam a diplomacia que existiu entre manifestantes e GNR”.
“E, agora, somos notificados como se fossemos bandidos”, acrescentou este agricultor do Baixo Alentejo.
Um grupo de agricultores de vários concelhos do distrito de Beja cortou, entre a madrugada do dia 01 de fevereiro e a noite do dia seguinte, a Estrada Nacional 260, na zona de Vila Verde de Ficalho, junto à fronteira com Espanha.
Estes protestos no setor aconteceram em todo o país contra os cortes de ajudas comunitárias que chegaram a ser anunciados pelo Governo e para reclamar o direito à alimentação adequada, condições justas e a valorização da atividade.
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