"Aqui a questão que se tem de pôr não é saber se a verba é muita ou pouca. A questão que se tem de pôr é se vamos ter um passe igual à Área Metropolitana de Lisboa ou não. E nós vamos ter um passe como Lisboa. Mas porque é que em Lisboa são precisos 70 milhões e no Porto 15 apenas? Porque Lisboa tem cacilheiros, comboios suburbanos e aqui o rio é turístico e o transporte público cada vez é menos usado. São cenários completamente diferentes", disse Eduardo Vítor Rodrigues.

O também presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia falava à agência Lusa a propósito do diploma com os valores e os termos do Programa de Apoio à Redução do Tarifário dos Transportes Públicos (PART), para incentivar o uso dos transportes coletivos nas grandes cidades, que foi publicado quinta-feira em Diário da República.

As compensações financeiras do PART estão disponíveis em 01 de abril, data a partir da qual as duas Áreas Metropolitanas, Porto e Lisboa, já anunciaram que vão disponibilizar um Passe Único que permitirá movimentos pendulares entre os concelhos que as constituem com um custo máximo de 40 euros por pessoa.

A Área Metropolitana de Lisboa, com mais de 464 mil utilizadores dos transportes públicos, é a que vai receber a verba maior, no valor de 74,8 milhões de euros, comparticipando o programa com 1,8 milhões, enquanto a AMP com 177,5 mil utilizadores, vai receber 15,4 milhões e comparticipar com 377 mil euros.

Confrontado com críticas e com preocupações sobre a desigualdade de verbas para as duas Áreas Metropolitanas, Eduardo Vítor Rodrigues garantiu que está "confiante" no "sucesso" da medida que considera ser "a mais importante deste Governo nesta Legislatura".

"Se pensarmos nos dados disponíveis e disponibilizados pelos operadores, esta verba é a comparticipação necessária para o Passe Único 2019. Para 2020 nós esperamos que seja superior. Só será superior se houver um aumento de procura de transporte público", frisou Eduardo Vítor Rodrigues.

Esta tarde o coordenador da área dos transportes na AMP, Marco Martins, admitiu "divergência de opiniões" com o presidente desta entidade, apontando que está a "ponderar se abandona ou não o cargo".

"Já coloquei o meu lugar à disposição várias vezes e hoje [após serem conhecidas as verbas para o Passe Único para o Porto] foi a gota de água", disse Marco Martins que é também presidente da Câmara de Gondomar e que falava numa reunião camarária em resposta a perguntas colocadas pela oposição sobre a questão do passe único e da relação atual entre municípios na AMP.

Na base desta posição de Marco Martins está o Passe Único, tendo o autarca de Gondomar referido que ficou "muito triste" com o que viu "nas primeiras páginas de hoje", apontando que "Lisboa tem mais dinheiro que o Porto" e que receava que isso pudesse acontecer.

"As contas estão mal feitas e a culpa não é do Governo, a culpa é da AMP que indica ao Governo as contas sem validação técnica ou política. O que o Porto reclamou ao Governo não é suficiente. Este é um assunto que me entristece e magoa. Dediquei-me durante muitos anos a esta questão e tenho visto agora a correr mal, portanto amanhã [quinta-feira] irei tomar uma decisão sobre esse assunto", disse Marco Martins.

Confrontado com esta opinião, Eduardo Vítor Rodrigues defendeu que seja dada "liberdade aos técnicos para trabalharem e apresentam o seu trabalho devidamente coordenado e orientado pelos políticos", mas admitiu que Marco Martins possa dizer que "existe algum problema".

"O presidente Marco Martins terá razão em dizer que pode haver um problema com as contas no sentido em que podemos estar perante contas que estejam subavaliadas. Mas nós só tínhamos como metodologia possível, e isso foi consensualizado na Área Metropolitana, a solicitação das contas aos operadores privados. E temos de partir de um pressuposto de confiança relativamente às contas que os operadores privados nos forneceram", disse às Lusa o autarca de Gaia.

Vítor Rodrigues lembrou que a questão do Passe Único é "completamente nova", uma vez que, disse, "não há histórico na AMP em na Área Metropolitana de Lisboa".

"E os políticos devem ser chamados para montar estratégias, definir projetos e foi isso que fizemos. É um processo muito burocrático, envolve divergências e acontece em período pré-eleitoral onde alguns olham para isto com potencial eleitoral. Acho que no fim vamos todos reconhecer que participamos num dos processos mais importantes e mais fraturantes, pela positiva, do início de um processo - não tenho dúvidas nenhumas - de evolução para o modelo de transporte público gratuito em 10 ou 15 anos", concluiu.