Ana Gomes, que frisou "a leitura política que o caso não pode deixar de ter", sublinhou a estranheza de Moçambique não aceitar a cooperação portuguesa no âmbito de investigação criminal ao desaparecimento do cidadão português.
"Houve outros cidadãos portugueses raptados nos últimos tempos em Moçambique. Em todos esses casos, houve apelo e abertura de Moçambique para a cooperação da Polícia Judiciária portuguesa e as pessoas foram localizadas, porque, como homens de negócios, tinham sido raptados para efeitos de extorsão", disse Ana Gomes, na sessão da Subcomissão dos Direitos Humanos do Parlamento Europeu, em Bruxelas.
A eurodeputada vincou que "é muito estranho que as autoridades moçambicanas não aceitem a oferta de Portugal" quanto ao rapto de Américo Sebastião, de 49 anos, numa estação de abastecimento de combustíveis, em Nhamapadza, distrito de Maringué, província de Sofala, no centro do Moçambique.
Antes, a mulher do empresário, Salomé Sebastião, interveio para expressar incompreensão por Moçambique não requerer a colaboração das autoridades policiais portuguesas.
"Não se compreende porque Moçambique não aceita a cooperação no caso do rapto de Américo", afirmou, frisando que o marido "foi levado por agentes fardados, que o transportaram numa carrinha cuja marca e modelo é habitualmente usada por forças de segurança moçambicanas".
Emocionada, Salomé Sebastião apelou para que "Moçambique coopere e que, efetivamente, investigue ou deixe investigar, para que Américo possa ser localizado e restituído ao seu país e à sua família".
A mulher do empresário recuperou a denúncia de falta de respostas por parte das autoridades moçambicanas e referiu os "milhares de cartas" de cidadãos e instituições portuguesas, que, voluntariamente, "começaram a ser expedidas em meados de janeiro", para pedir "ajuda e intervenção" do Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi.
"De Moçambique, há apenas o silêncio. Este silêncio é preocupante e torturante", revelou.
A fechar a sessão da subcomissão, o encarregado de negócios de Moçambique disse, numa curta declaração, que tomou "as devidas notas, para, com todo o rigor, transmitir ao Governo, as preocupações, que são as preocupações de todos os moçambicanos".
O paradeiro do empresário das áreas de agropecuária e exploração florestal é desconhecido desde a manhã de 29 de julho de 2016.
Imagens de vídeo do posto de abastecimento de combustíveis revelam que o português foi introduzido por um grupo de homens fardados numa viatura descaracterizada, que abandonou o local rapidamente.
Segundo a família, os raptores usaram os cartões de débito e crédito por 32 vezes para levantarem meticais no valor global de "4.000 euros", não conseguindo mais porque as contas foram bloqueadas logo que reportado o desaparecimento.
A eurodeputada Ana Gomes expôs o caso a Federica Mogherini, Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, que manifestou preocupação, frisando que "a situação em Moçambique está a ficar complicada do ponto de vista da segurança".
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