Num vídeo publicado no domingo — e exposto por Carlos Guimarães Pinto, ex-líder do Iniciativa Liberal — Mário Machado, líder do movimento de extrema-direita Nova Ordem Social, garantiu aos seus apoiantes que pretendam integrar outros partidos, nomeadamente o Chega, que não irá revelar a sua identidade.
Em declarações ao SAPO24, André Ventura demarcou-se deste vídeo: "Não permitirei, enquanto for líder do Chega, que o partido seja capturado por interesses obscuros ou violentos de movimentos ou ex-movimentos de natureza subversiva ou violenta".
Assumindo que o seu partido quer "reduzir a pó o sistema político que atualmente temos", sublinha, no entanto, que o quer fazer "dentro das regras do jogo democrático do Estado de Direito". Numa declaração por escrito, André Ventura acrescenta ainda que será "o líder de toda a oposição ao sistema, de todos os que se cansaram de esperar pela mudança e pelo rejuvenescimento do sistema construído após 25 de abril de 1974".
O vídeo de Mário Machado foi denunciado por Carlos Guimarães Pinto, ex-líder do Iniciativa Liberal, este domingo, 2 de fevereiro.
"A quem interessar: o Mário Machado recomenda aos seus amigos que se inscreverem no Chega para não dizerem que pertenceram a movimentos nacionalistas, que ele também promete não bufar", escreveu Guimarães Pinto na sua conta no Twitter.
O vídeo de Mário Machado surge depois de várias polémicas, entre elas o facto de um militante ter feito a saudação nazi durante um comício do Chega e de um ex-dirigente do partido ter admitido ter estado ligado à Nova Ordem Social, recusando todavia o rótulo de nazi.
Neste vídeo, Mário Machado, este aparece a dizer o seguinte:
"Todos os militantes e ex-militantes dos movimentos a que eu pertenci, entre eles a Frente Nacional e a Nova Ordem Social, têm todo o direito de participar ativamente neste partido [o Chega]. (...) Portanto, o conselho que eu dou aos meus queridos amigos, que me acompanharam durante estes quase 25 anos de luta nacionalista, é que, primeiro, se se quiserem inscrever no Chega, nunca digam, em caso algum, que pertenceram a um movimento nacionalista ou de extrema-direita, não têm de o fazer, e nos que eu liderei não existe prova alguma de que tenham feito parte das minhas organizações. E não existe prova alguma porque só eu posso provar que o indivíduo A ou B pertenceu à minha organização e eu nunca o vou fazer".
Mais, aconselha Mário Machado, "se aparecerem fotografias ou vídeos, neguem perentoriamente e digam que tiveram mera curiosidade".
Todavia, Mário Machado faz questão de esclarecer que não faz parte do partido liderado por André Ventura "por vários motivos" e que não pretende pertencer, assumindo divergências: "O Chega não é um partido nacionalista, eles próprios tiraram essa palavra do seu programa".
Num segundo vídeo, já em resposta à crítica feita por Carlos Guimarães Pinto, Mário Machado diz também que recebeu alguns telefonemas "a lembrar que temos alguns camaradas que também se inscreveram no Iniciativa Liberal. Não podia deixar de referir que também esses nacionalistas, com uma vertente económica mais liberal, têm, como é obvio, toda a liberdade para seguir o seu caminho. Eu sei que há dois ou três que até se inscreveram no partido e apoiaram financeiramente aqueles cartazes todos muito bonitinhos e inovadores que o IL fez. Podem estar descansados que também não vou dizer quem são, pois eu prezo muito a liberdade individual das pessoas, e portanto podem desenvolver a vossa atividade política à vontade".
Em declarações ao SAPO24, Carlos Guimarães Pinto considerou que, atendendo à ordem de publicação dos vídeos, o que Mário Machado disse em relação ao Iniciativa Liberal não foi mais do que "retaliação" pelas suas críticas e uma forma de manipulação ao querer colar militantes dos seus movimentos ao IL.
"Anteontem o Mário Machado colocou uma longa mensagem de vídeo apelando ao seu grupo de seguidores mais próximo que se juntasse ao Chega e obedecesse a André Ventura. Eu denunciei esse apelo num tweet que acabou por levar esse vídeo para fora do grupo restrito de seguidores do Mário Machado, o que aborreceu alguns apoiantes do Chega, incluindo o próprio Mário Machado. Como retaliação por ter denunciado o vídeo, o Mário Machado no dia seguinte fez aquele vídeo tentando envolver a IL. Ele percebe que a pior arma que tem é tentar associar a sua má imagem e essa foi a forma que ele encontrou de retaliar pela denúncia do vídeo", afirma Carlos Guimarães Pinto.
Mas o ex-líder do Iniciativa Liberal admite também que pode haver oportunismo por parte de Mário Machado ao instrumentalizar o Chega.
Mário Machado foi condenado em 1997 a uma pena de quatro anos e três meses de prisão por ofensas corporais, decretada no âmbito do julgamento da morte de Alcindo Monteiro.
Alcindo Monteiro, cabo-verdiano, de 27 anos, foi assassinado no Bairro Alto, em Lisboa, em Junho de 1995.
Mário Machado, que liderou durante muito tempo os “Hammerskins Portugal”, foi mais tarde condenado por vários crimes de violência, sequestro, posse de arma e discriminação racial.
Da saudação nazi ao ex-dirigente ligado à Nova Ordem Social
Na semana passada o Chega viu-se envolvido numa série de polémicas.
Foram divulgadas nas redes sociais imagens do encontro do Chega, partido representado na Assembleia da República por André Ventura, nas quais se via um apoiante do partido a levantar o braço direito no ar, em saudação nazi, enquanto era cantado o hino nacional. O encontro em causa teve lugar no Hard Club no Porto, tendo a equipa que gere a sala de espetáculos repudiado formalmente o ocorrido.
Em declarações ao Jornal de Notícias, a 28 de janeiro, André Ventura disse que deu conta do que estava a acontecer apenas no final do hino nacional e que ficou sem saber o que fazer: "Tinha muitas luzes mas apercebi-me da situação, quando já estava a acabar o hino nacional", contou. "Foi uma situação incómoda", assumiu, acrescentando que o "perturba" este tipo de comportamento. O líder do partido disse ainda desconhecer a identidade do apoiante e que se for militante do partido será alvo de um processo disciplinar. "Se as autoridades competentes solicitarem ao Chega a identificação do indivíduo, obviamente que serão dados todos os elementos disponíveis", acrescentou Ventura.
Apenas três dias depois, a 31 de janeiro, Tiago Monteiro, ex-conselheiro nacional do Chega, que deixou o cargo na sequência de notícias sobre a sua ligação a um movimento extremista, admitiu ter estado ligado à Nova Ordem Social, mas recusou ser nazi.
Tiago Monteiro, que integrava também o núcleo de Mafra do partido liderado por André Ventura, renunciou aos cargos que desempenhava a 17 de janeiro deste ano, depois de a revista Sábado ter publicado uma investigação que o envolvia. De acordo com aquela publicação, Tiago Monteiro teve ligações à Nova Ordem Social, movimento de extrema-direita liderado por Mário Machado e entretanto suspenso, tendo inclusivamente estado à frente do núcleo de Sintra daquela organização.
Na sequência destas notícias, André Ventura afirmou, em conferência de imprensa na Assembleia da República, que, enquanto for líder do Chega, "nenhuma possibilidade haverá de que o partido seja conotado, envolvido ou associado com quaisquer movimentos extremistas, subversivos ou racistas, não é essa a minha posição ideológica, essa posição não é admissível numa democracia e num Estado de direito como aquele em que vivemos”.
O deputado único assegurou igualmente que não irá tolerar nem admitir ”qualquer presença em órgãos dirigentes de militantes que estejam ou tenham estado ligados, quer a atos violentos, quer a atos subversivos, ligados a movimentos extremistas, movimentos violentos ou movimentos racistas”.
“Farei tudo o que estiver ao meu alcance para impedir que isso aconteça, porque é a saúde da nossa democracia que está em causa, e é a imagem do Chega enquanto partido parlamentar que está em causa também”, assinalou Ventura, notando que quer combater igualmente “tentativas de tomar o partido a partir de fora”.
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