Li Keqiang, que exerceu o cargo de primeiro-ministro entre 2013 e 2023, morreu subitamente, aos 68 anos, de ataque cardíaco, na sexta-feira passada. Ele era um economista fluente em inglês, que pertencia a uma geração de políticos formados numa época de maior abertura da China às ideias liberais ocidentais.

O primeiro-ministro perdeu, no entanto, grande parte da sua influência à medida que o Presidente chinês, Xi Jinping, centralizou o poder e priorizou a segurança do regime comunista, em detrimento do crescimento económico.

Funcionários em empresas estatais ouvidos pela agência Lusa contaram terem sido advertidos pelas chefias para não partilharem mensagens de condolências nas redes sociais.

Também o portal China Digital Times, que acompanha o conteúdo bloqueado pelos censores chineses, divulgou instruções dadas a um órgão de comunicação social chinês pelas autoridades: “As caixas de comentários devem ser bem geridas. Cuidado com comentários ‘excessivamente efusivos'” sobre Li, que competiu com Xi Jinping pelo cargo de secretário-geral do Partido Comunista até 2012.

Nos últimos dias, porém, milhares de pessoas reuniram-se em cidades ligadas à vida e à carreira de Li Keqiang para lhe prestar homenagem, depositando numerosas flores em locais que lhe ficaram associados.

As suas antigas residências na sua província natal de Anhui, no leste do país, e partes da cidade de Zhengzhou, a capital da província central de Henan, onde foi governador, foram visitadas por milhares de cidadãos para o homenagear com flores ou três laços, seguindo a tradição local.

Na rede social Weibo, as mensagens de condolências e os comentários em resposta às publicações oficiais sobre a sua morte foram objeto de forte censura logo após o anúncio.

Apesar de as palavras-chave relacionadas com a morte de Li terem registado mais de 11,5 milhões de visualizações nos minutos que se seguiram à notícia, muitos comentários permaneceram invisíveis, após terem sido “filtrados” ou “selecionados”, segundo a plataforma.

As mortes de antigos dirigentes do país são frequentemente momentos de grande tensão para o aparelho de Estado chinês, com as vigílias e o luto por vários funcionários a servirem no passado de catalisador de descontentamento, cristalizando-se em protestos.

O luto pela morte do político reformista Hu Yaobang, no dia 15 de abril de 1989, tornou-se no gatilho para os protestos estudantis em larga escala que culminaram no massacre da Praça Tiananmen, na noite de 03 para 04 de junho.

“Por vezes, elogiar o caminho não percorrido equivale a comentar sobre o caminho que foi percorrido”, observou Wen-Ti Sung, membro no grupo de reflexão Atlantic Council Global China Hub. “Para alguns, Li Keqiang representava uma atitude relativamente mais relaxada no que respeita às relações entre o Estado e a sociedade. Ele defendia a concessão de mais espaço às forças da sociedade e do mercado”, explicou.

A agência noticiosa oficial Xinhua informou hoje que as bandeiras vão ser hasteadas a meia haste nos edifícios oficiais de toda a China, incluindo Hong Kong e Macau, e nas embaixadas do país no estrangeiro.

O protocolo para Li Keqiang, cujos restos mortais foram transferidos para Pequim no mesmo dia da sua morte, é comparável ao seguido após a morte, em 2019, de Li Peng, também antigo primeiro-ministro.