Estas ideias foram preconizadas por António Costa nas intervenções que fez em Davos, na Suíça, durante o Fórum Económico Mundial, numa conferência em que também participaram a comissária europeia para o comércio, a sueca Cecilia Malmstrom, e os primeiros-ministros da Holanda, Mark Rutte, e da Irlanda, Leo Varadkar.
Apesar de nunca terem entrado em confronto direto de posições, as diferenças políticas entre o primeiro-ministro português e os seus homólogos holandês e irlandês foram no entanto bem evidentes, com estes dois últimos a acentuarem mais perspetivas de aprofundamento do livre comércio e (sobretudo no caso de Rutte) a disciplina orçamental como forma de prevenção de conjunturas recessivas.
António Costa centrou antes as suas três curtas intervenções na ideia de que, paradoxalmente, após o referendo no Reino Unido, se sente agora "uma nova energia na União Europeia para avançar".
"Se há lição que devemos retirar do ‘Brexit' é que a vontade dos povos nunca pode ser secundarizada e, por isso, cada Estado-membro deve ter uma margem de liberdade dentro da União Europeia. Mas uma minoria de Estados-membros também não pode impedir que outros avancem em termos de processo de integração", advertiu, defendendo neste ponto a ideia de "uma Europa com geometria variável".
"Isso já existe na União Europeia, quer com Schengen, quer com a zona euro", completou.
Durante esta conferência foi na questão da austeridade que se manifestaram maiores diferenças de abordagem entre os primeiros-ministros de Portugal e da Holanda.
Mark Rutte, que defendeu uma União Europeia "pragmática", sugeriu que todos os Estados-membros da União Europeia deveriam fazer o mesmo que a Holanda em termos de disciplina financeira, dizendo até que, em caso de nova recessão, o seu país conseguirá acesso imediato a financiamento na ordem dos 30 a 40% do PIB holandês.
Costa falou a seguir e advogou que a última crise financeira internacional "atacou os países de forma diferente", os quais "adotaram também medidas diferentes".
"O meu Governo escolheu outras políticas para se atingir os mesmos objetivos e, com isso, saiu no ano passado do Procedimento por Défice Excessivo e vai fechar 2017 com um défice na ordem de 1,2%", vincou, antes de defender que o fator "convergência" é o único que pode garantir sustentabilidade à política monetária da zona euro.
Logo na sua primeira intervenção, o primeiro-ministro considerou que é essencial que a União Europeia responda às principais preocupações manifestadas pelos cidadãos.
"Há matérias em que é impossível obter resultados cada um por si, como o combate ao terrorismo, a política de migrações ou a resposta às alterações climáticas. Precisamos de reforçar a cooperação policial, a cooperação entre as autoridades judiciárias e na Defesa. Mas, para a União Europeia ter estabilidade tem de haver convergência", frisou António Costa.
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