António Costa falava após a segunda ronda de questões colocadas pelos deputados no debate sobre o estado da Nação na Assembleia da República.

O líder parlamentar do PCP, João Oliveira, confrontou o primeiro-ministro com a existência de um ambiente de "intimidação" aos trabalhadores na Portugal Telecom (PT), com António Costa, logo a seguir, a partilhar com o dirigente comunista esses mesmos receios.

"Receio bastante que a forma irresponsável como foi feita aquela privatização [pelo anterior Governo PSD/CDS-PP] possa dar origem a um novo caso Cimpor, com um novo desmembramento que ponha não só em causa os postos de trabalho, como o futuro da empresa", declarou o primeiro-ministro.

António Costa fez depois referência ao que se passou em termos de comportamento das operadoras de telecomunicações durante o período de combate às chamas no incêndio ocorrido em junho passado em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria.

"Aliás, espero que a autoridade reguladora [para as telecomunicações], olhe com atenção só o que aconteceu com as diferentes operadoras nestes incêndios de Pedrógão Grande. Compreenderá certamente que houve algumas que conseguiram sempre manter as comunicações e houve outra que esteve muito tempo sem conseguir comunicações nenhumas - e isso é muito grave", salientou ainda o líder do executivo.

Depois, António Costa disse que pessoalmente, enquanto consumidor de telecomunicações, já tirou conclusões face ao panorama existente no mercado nacional.

"Por mim, já fiz a minha escolha da companhia que utilizo", disse, numa nova alusão crítica à PT.

Nesta segunda ronda, a intervenção mais dura em relação ao primeiro-ministro veio da parte do líder parlamentar do CDS-PP, Nuno Magalhães, dizendo que António Costa não é homem para as horas más".

"O senhor primeiro-ministro é só um homem para as horas boas, só para dar as boas notícias", afirmou, numa alusão aos casos dos incêndios e do roubo de armamento em Tancos.

Nuno Magalhães fez também uma referência indireta às recentes férias do líder do executivo, afirmando que, "quando as coisas correm mal no país, o timoneiro vai lá para fora e deserta".

O presidente do Grupo Parlamentar do CDS-PP insistiu depois que em 2016 houve cativações em setores fulcrais para o Estado, como o da Defesa Nacional ou da Proteção Civil.

"Estamos a falar das maiores cativações dos últimos 50 anos, só comparáveis com as dos governos de José Sócrates", advogou o líder parlamentar centrista.

A resposta de António Costa a Nuno Magalhães, todavia, foi curta: "Em relação à única coisa relevante que disse, refiro que em 2016 a Proteção Civil não só não teve cativações, como registou uma execução superior de 4,5 milhões de euros face ao orçamento inicial", reagiu.

Pela parte do Bloco de Esquerda, a deputada Joana Mortágua exigiu um aumento de vagas de vinculação extraordinária de docentes no próximo ano letivo, considerando que até agora foram claramente insuficientes e que os professores "não podem continuar a andar com a casa às costas".

"Se é para regatear, que não seja o défice em Bruxelas, mas o número de vagas para vinculação de professores", disse Joana Mortágua.

Já José Soeiro, também do Bloco de Esquerda, advertiu que dos 150 mil novos empregos criados no último ano "100 mil são precários e só 50 mil são contratos sem termo", manifestando-se então contra o "abuso" na celebração de contratos a prazo.

José Soeiro voltou a insistir com a obrigação de os dirigentes máximos dos serviços do Estado "terem de identificar todos os seus trabalhadores em situação de precariedade", defendendo igualmente que cabe ao Governo pressionar esses mesmos dirigentes dos serviços do Estado.

Pela parte do PS, Lara Martinho e Carlos Pereira colocaram questões relativas ao reforço de agentes de segurança nos Açores, construção da nova prisão em Ponte Delgada e apoio à recuperação das áreas atingidas pelo incêndio do Funchal no ano passado.

[Notícia atualizada às 17:40]