A Direção de Informação Militar (DRM), num documento datado de 25 de setembro e divulgado hoje pela Radio France e pela Disclose, fornece uma lista de armas vendidas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos que estão implicadas nessa guerra.
Entre o armamento estão tanques Leclerc, obuses, caças Mirage 2000-9, radares Cobra, blindados Aravis, helicópteros Cougar e Dauphin, fragatas do tipo Makkah, corveta lança mísseis do tipo Bayunnah e canhões César.
O documento de 15 páginas, intitulado “Iémen – Situação de segurança”, foi apresentado a 03 de outubro numa reunião do Conselho de Defesa com o Presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro, Edouard Philippe, e os seus ministros da Defesa, Florence Parly, e dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian.
A ministro da Defesa, Florence Parly, tinha afirmado, a 20 de janeiro, que a França não tinha vendido “recentemente” armas que pudessem “ser usadas no contexto do conflito iemenita”.
Noutra ocasião, em julho do ano passado, a ministra disse que, segundo o que sabia, os equipamentos terrestres vendidos à Arábia Saudita foram usados “não para fins ofensivos, mas defensivos” na fronteira daquele país com o Iémen.
A Radio France sublinhou que, apesar de ser informado dos riscos que os civis poderiam correr com a utilização de tais armas, o Governo francês tem continuado com as suas entregas e está programada outra entrega à Arábia Saudita até 2023.
A DRM identificou quatro zonas do Iémen onde têm estado presentes os tanques Leclerc e a Disclose e referiu ainda que, a partir de gravações realizadas nas áreas da linha da frente, estes tanques foram utilizados em grandes ofensivas da coligação, liderada pela Arábia Saudita, na luta contra os rebeldes.
O serviço de informação militar alertou que dois barcos de fabrico frances — uma fragata saudita de classe Makkah e a corveta lança mísseis do tipo Baynunah – “participaram no bloqueio naval” que oficialmente pretende impor o embargo da ONU sobre as armas, mas que também é acusado de impedir a entrada de suprimentos humanitários.
A primeira resposta sobre a exposição do documento de DRM foi da Comissão Interministerial para Exportação de Material de Guerra (CIEEMG), sob tutela do gabinete do primeiro-ministro, que recordou que a coligação árabe liderada por Riade “luta também contra o Estado Islâmico e a Al-Qaida na Península Arábica, que estão presentes no Iémen e representam uma ameaça” à segurança da própria França.
“Pelo que sabemos, as armas francesas na posse dos membros da coligação estão essencialmente em posição defensiva, fora do território iemenita ou em áreas da coligação, mas não na linha da frente”, referiu o CIEEMG.
“Não temos conhecimento de vítimas civis resultantes da sua utilização no teatro iemenita”, conclui.
O Iémen regista um devastador conflito após a intervenção de uma coligação árabe sob comando saudita desde março de 2015, em apoio às forças pró-governamentais contra os rebeldes houthis.
As forças insurgentes são apoiadas pelo Irão, o grande rival xiita da Arábia Saudita sunita no Médio Oriente.
Segundo a ONU, este conflito provocou a maior catástrofe humanitária no mundo, com um balanço de mais de dez mil mortos. Diversas organizações não-governamentais consideram que o balanço das vítimas é muito superior.
França faz parte do grupo dos três maiores exportadores de armas no mundo, atrás dos Estados Unidos, Rússia.
A Arábia Saudita tornou-se o maior importador de armas do mundo, no período 2014-2018, com um aumento de 192 por cento, em comparação com 2009–2013, segundo o mais recente relatório sobre o comércio mundial de armas do Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Paz de Estocolmo (Sipri), publicado em meados de março.
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