O número de burlas informáticas e de telecomunicações em Portugal quase duplicou em quatro anos, segundo os dados divulgados hoje pela PSP, que alerta, em particular, para o aumento dos casos de burla “Olá pai, olá mãe”.

Há assim tantas burlas?

Sim. Em 2019, verificaram-se 6.758 casos de burla informática e nas telecomunicações, um valor que subiu para os 10.910 entre janeiro e outubro deste ano, refere a direção nacional da PSP. Em 2022, o número total deste tipo de burlas atingiu os 11.241 casos.

O número de detidos passou de dois em todo o ano de 2019 para 31 até outubro deste ano, com o número de suspeitos a subir de 251 para 390, no mesmo período.

A burla ‘Olá pai, olá mãe’ é das mais significativas?

“De entre os potenciais riscos a que, inevitavelmente, os utilizadores se expõem com o uso das novas tecnologias, a PSP destaca este ano a burla que ficou conhecida por ‘Olá pai, olá mãe’, cujo número de ocorrências tem vindo a aumentar”, informou ainda a PSP.

Os suspeitos utilizam maioritariamente a plataforma de mensagens Whatsapp e apresentam-se como um familiar muito próximo - normalmente filhos ou filhas - da potencial vítima e pedem dinheiro, alegando que mudaram de número.

“As ocorrências sinalizadas registam-se por todo o território nacional, com especial incidência nas zonas urbanas de maior densidade populacional”, alerta a PSP, salientando que a troca de mensagens “poderá manter-se durante horas, com conteúdo informal e registos do dia-a-dia, com o intuito de avaliar a relação de proximidade entre a potencial vítima e o seu descendente”.

Segundo as autoridades, “os idosos continuam a ser as principais vítimas de vários tipos de burlas praticadas pelos suspeitos”, mas, nos últimos anos, “acompanhando a evolução tecnológica e as potencialidades do mundo digital”, os suspeitos “têm atingido outro tipo de vítimas”.

Sabe-se quem é o responsável?

Na sexta-feira, em comunicado, a PJ referiu que, através do seu Departamento de Investigação Criminal de Leiria, “foi dado cumprimento a um mandado de busca domiciliária e detido, em flagrante delito, um cidadão estrangeiro, pela prática do crime de burla qualificada”.

“Foram apreendidos sete ‘modems’ que acoplavam 32 cartões SIM por aparelho, significando que operavam 224 cartões em simultâneo. Esta operabilidade permitia a remessa/receção de mensagens, originando que num dia pudessem ser enviados milhares de mensagens, com os argumentos conhecidos por ‘olá pai, olá mãe’”, esclareceu a PJ.

Presente a primeiro interrogatório judicial ao arguido, de 41 anos, o juiz de instrução criminal aplicou a medida de coação mais gravosa, a prisão preventiva.

O que fazer (e não fazer) se receber alguma mensagem suspeita?

As autoridades recomendam a qualquer pessoa que, quando confrontada com alguma mensagem que pareça suspeita, tente fazer uma chamada de voz para o número, “a primeira e mais rápida forma de prevenção e de despiste de que poderá estar a ser alvo de uma tentativa de burla”.

A PSP pede as vítimas não realizem qualquer transferência de dinheiro “sem, pelo menos, previamente conseguir falar de viva voz e reconhecer a pessoa com quem pensa estar em conversação” e, nos casos em que isso não seja possível, devem fazer perguntas simples que o seu interlocutor deveria conhecer, como datas de aniversário ou outra informação pessoal.

“As burlas constituem um fenómeno criminal em crescendo, em contraciclo com a tendência da criminalidade geral no nosso país” e “apesar da existência de um maior acesso à informação e uma população mais informada, o célebre ‘conto do vigário’ continua a ser uma forma eficaz de obtenção ilegítima de valor patrimonial alheio”, alerta a PSP.

*Com Lusa