“Existe uma normalização da experiência da menstruação como algo de doloroso e incapacitante. Há, até mesmo, uma glorificação da mulher por ser capaz de aguentar a dor e por fazer muita coisa com estas dores. Mas não é suposto doer”. Catarina Maia passou dez anos da sua vida a saltitar entre consultórios médicos onde nunca a hipótese de endometriose foi levada a sério como uma possibilidade.
“Eu tinha muitas dores. Mas a minha mãe também tinha. Portanto demorei muito tempo até questionar o médico sobre elas, eu própria achava-as normais. E questionava-me se o problema estava em mim, se seria eu que não conseguia gerir a dor como as outras mulheres”. O primeiro médico com quem falou disse-lhe que era impossível ser endometriose, senão não aguentaria o exame de toque, “o que é parcialmente verdade, mas só em alguns casos”. A segunda médica a quem recorreu, já com dores também nos intestinos (porque esta doença pode afetar outras partes do corpo), disse-lhe que “eram certamente parasitas”. Não eram.
Quando, por fim, o diagnóstico chegou, a segunda odisseia começou: a de como encontrar informação válida sobre a vida com esta doença, que afeta, maioritariamente, as mulheres e que continua a ser desvalorizada. Da infertilidade – que afeta 30 a 50% das mulheres com endometriose – aos tratamentos existentes, dos mitos aos sintomas, dos prejuízos à saúde mental aos custos financeiros associados, todos estes temas são abordados na página que criou em 2017 para falar sobre a endometriose (tem hoje mais de 50 mil seguidores). O livro “As Dores Menstruais Não São Normais” chegou às bancas em setembro e é ele o ponto de partida para estes 50 minutos de conversa.
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