Em declarações à agência Lusa, o coronel António Mota, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), começou por deixar “em nome pessoal e da associação, um grande abraço de solidariedade ao almirante Mendes Calado”.
Confessando que a intenção do Governo de propor ao Presidente da República a exoneração em causa não o surpreendeu, o coronel apontou críticas ao poder político, estranhando que “a política esteja completamente sem escrúpulos, ainda por cima numa área extraordinariamente sensível como é a Defesa”.
António Mota referiu que o almirante Mendes Calado “foi reconduzido em fevereiro” e, portanto, tinha na altura, “uma confiança reforçada”.
“O que acontece daí para cá é que o almirante Mendes Calado, aliás, à semelhança do general Borrego da Força Aérea e do general Fonseca do Exército [chefes dos respetivos ramos], e muito bem (…) se opuseram às ideias estapafúrdias do senhor ministro da Defesa na reestruturação da estrutura superior das Forças Armadas”, apontou, numa referência às recentes alterações à Lei de Defesa Nacional e Lei Orgânica de Bases das Forças Armadas que geraram polémica e críticas dos chefes dos três ramos.
Para o coronel, o ministro tem até demonstrado “arrogância” e “tiques autoritários para não dizer ditatoriais”, considerando que Gomes Cravinho vai arranjar uma “desculpa esfarrapada” para justificar a proposta de exoneração.
Vincando que nada tem contra o vice-almirante Gouveia e Melo, o coronel apontou que “qualquer chefe do estado maior que se siga nestas condições específicas não fica bem na fotografia porque ficará sempre ligado, até de forma involuntária, a uma nomeação que aparentemente foi feita à medida”.
Já o sargento Lima Coelho, presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), disse ter recebido a notícia com “estranheza e surpresa”.
“Não se percebe que um chefe militar que há pouco mais de seis meses foi reconduzido por este Governo, por este ministro, proposto ao Presidente da República a sua recondução, por ter excelentes qualidades, por ter exercido uma excelente missão (…) não se percebe o que terá passado neste tão pouco período de tempo que leve o senhor ministro a propor a demissão deste chefe militar”, apontou.
Para o sargento, “é importante que se explique rigorosamente aos cidadãos o que está por detrás de tudo isto porque as Forças Armadas não podem ser alvo de arremesso político”.
Também o presidente da Associação de Praças (AP), Paulo Amaral, disse ter recebido a notícia com “estupefação e com alguma estranheza também”, apontando que “não é fácil” para os militares e qualquer cidadão compreender o que se passou e considerando “imperativo” que haja esclarecimentos.
“Porque estamos a falar das Forças Armadas. Com o devido respeito que me têm todas as outras instituições, estamos a falar de uma instituição que é secular, que tem como inerência principal a defesa da soberania nacional, e também de um homem [Mendes Calado] que deu uma vida inteira à causa das Forças Armadas, à instituição e à causa nacional. Não pode ser tratado desta forma leviana”, sustentou.
Fazendo referência às declarações de hoje do Presidente da República sobre o assunto, Paulo Amaral aditou que “há aqui qualquer coisa que não está a bater certo”, acrescentando que “as ordens quando vêm de cima têm que ser ordens claras”.
Na terça-feira, fontes ligadas à Defesa Nacional disseram à agência Lusa que o Governo iria propor ao Presidente da República a exoneração do chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Mendes Calado, cargo que ocupa desde 2018, tendo sido reconduzido para mais dois anos de mandato com início em março deste ano.
Fonte próxima do processo e ligada à Defesa Nacional adiantou à Lusa que o Governo iria propor o vice-almirante Gouveia e Melo para substituir o atual chefe do Estado-Maior da Armada.
Hoje, o Presidente da República afirmou que a saída do chefe do Estado-Maior da Armada antes do fim do mandato está acertada, mas não acontecerá agora, escusando-se a adiantar qual será a data.
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