Nos quase desertos 30 hectares das quintas da Atalaia e do Cabo da Marinha, Seixal, o certame político-cultural anual dos comunistas arrancou a meio-gás, pois a 44.ª edição da Festa do “Avante!” está limitada este ano pelas restrições sanitárias devido à pandemia de covid-19.
“Como militante, vejo possível todos os acordos à esquerda enquanto seja uma esquerda séria e honesta. A esquerda verdadeira. O PCP é da esquerda verdadeira, os outros nem tanto. Sempre existiram condições, desde que os outros partidos queiram fazer uma política séria e honesta”, disse à Lusa Augusto Faria, 65 anos, reformado da construção civil, de tronco nu e copo de imperial na mão.
O primeiro-ministro lançou o desafio a BE, PCP, “Os Verdes” e PAN no debate parlamentar sobre o estado da Nação, em julho, para entendimentos de longo prazo, à semelhança do sucedido em 2015, com as inéditas posições conjuntas com bloquistas, comunistas e ecologistas, as quais permitiram uma legislatura completa de recuperação de rendimentos e direitos.
“Tenho plena confiança de que o partido estará sempre na vanguarda daquilo que são os direitos dos trabalhadores. Todos os acordos que venham por bem, o PCP estará sempre disponível. O que faz sentido é não andar para trás no que respeita à educação e à saúde. Eu não disse que não interessa (um acordo). Aquilo que nos interessa é tudo o que esteja em cima da mesa para a manutenção de direitos para melhor qualidade de vida e conciliar vida pessoal com trabalho. O PCP está sempre disponível”, disse Sara Vargas.
A militante do PCP há 10 anos e até há pouco tempo bolseira na área da Filosofia, com 29 anos, embalava no carrinho de bebé o seu filho, Fernando, de 13 meses.
António Costa reforçou recentemente o apelo, acenando com o cenário de eventual crise política, em entrevista ao jornal semanário Expresso, caso não houvesse acordos com os partidos à sua esquerda, pressão que foi sendo vincada pelo presidente do PS, Carlos César.
“A ‘geringonça’ pode funcionar sem acordo, nos moldes em que tem funcionado até agora, não uma coligação. O PCP pode ser um apoiante sem pertencer ao Governo. Pode ser penalizador para o PCP se for um acordo escrito”, opinou João Queiroz, motorista de 56 anos.
Um micro empresário industrial, Rui Enfeiteira, 43 anos, pediu propostas palpáveis para que os comunistas digam de sua sentença.
“Nós nunca fazemos acordos 'a priori', sem ver documentos, projetos mínimos daquilo que será o Orçamento do Estado. Temos a experiência de há pouco tempo em que o PCP votou contra o Orçamento Retificativo. Nós temos sido criticados por aprovar alguns orçamentos do PS. Existem dois momentos, na generalidade e em sede de especialidade. Falar de orçamentos ainda é muito cedo. Só com situações em concreto é que o partido se pronunciará”, sentenciou.
Lúcia Aliagas, uma estudante de História de 21 anos e comunista catalã, está pela terceira vez, com um grupo de amigos, no evento do PCP.
“Em Espanha, temos uma situação muito similar, com o Podemos e o PSOE (Partido Socialista Operário de Espanha). Com os acordos, e sabendo o papel dos partidos comunistas... o setor mais de esquerda (Esquerda Unida) está um pouco marginal do Governo. No final do dia, o PS faz o que quer e isso não se pode passar também em Portugal”, defendeu.
Atualmente, Espanha é governada pelo socialista Pedro Sánchez, numa coligação com o recente Unidas Podemos, desde janeiro, naquele que é o primeiro executivo que junta mais que um partido na história democrática moderna espanhola.
“Vejo o PCP como uma referência, em muitas coisas estão muito melhor do que em Espanha. Gosto muito de vir à festa porque é uma maneira de conhecer os camaradas portugueses, as diferentes realidades, e gosto muito da cultura portuguesa e de Lisboa”, concluiu.
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