“Não há nada sobre a captação de profissionais de saúde, precisamente para a área da ginecologia/obstetrícia e da pediatria, e é lamentável se [o plano] esquecer deste aspeto”, argumentou o bastonário, em declarações à agência Lusa.

À margem de uma visita ao Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), Carlos Cortes considerou que Portugal até pode “ter os melhores serviços” de urgência, mas “o grande problema é a falta de profissionais de saúde, fundamentalmente a falta de médicos”.

O plano de reorganização para as urgências de obstetrícia e pediatria foi apresentado pelo Governo, esta terça-feira.

O bastonário da Ordem dos Médicos lamentou ainda que, não só no âmbito desta iniciativa, mas na própria proposta do Governo para o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), o executivo “não tenha uma palavra muito concreta” e “um plano bem definido para captar mais médicos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“O grande problema é a falta de ginecologistas obstetras, a falta de pediatras, a falta de muitas outras especialidades para [o SNS] poder dar uma resposta adequada”, insistiu.

Por isso, Carlos Cortes adiantou que, “pela primeira vez”, a Ordem dos Médicos vai preparar propostas para o OE2025.

“A Ordem dos Médicos vai remeter à Assembleia da República, porque acha que é importante, um conjunto de propostas para incluir no Orçamento do Estado, precisamente para dar, enfim, uma maior capacidade de atratividade” de clínicos ao Serviço Nacional de Saúde.

Questionado pela Lusa sobre quais irão ser essas medidas sugeridas pela ordem, Carlos Cortes limitou-se a indicar que “irão ser conhecidas em breve”.

Ainda em relação ao plano de reorganização das urgências de obstetrícia e pediatria, apesar das críticas, o bastonário considerou que representa um “sinal positivo”.

“Há uma preocupação do Ministério da Saúde em resolver um problema que não surgiu agora, não surgiu neste verão, mas é um problema que se tem densificado, que se tem agravado ao longo destes últimos anos”, afirmou.

“Pela primeira vez, nós vemos aqui medidas consistentes que estão a ser tomadas”, continuou, defendendo, que Portugal “vai ter de ter” uma discussão sobre “para que é que serve exatamente um serviço de urgência”.

“Um serviço de urgência é um atendimento permanente que recebe todas as situações, independentemente da sua gravidade, ou o serviço de urgência é, então, um local no hospital de atendimento dos casos mais urgentes”, questionou.

Este plano agora anunciado pelo Governo já dá “uma resposta”, ou seja, contém “uma indicação de que, efetivamente, o serviço de urgência, e é isso que defende a Ordem dos Médicos, tem de ser somente para os casos mais urgentes”, afiançou.

Quanto à criação da linha SNS Criança, uma das medidas incluídas no plano elaborado pela Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, Carlos Cortes disse que a ordem terá de analisar “do ponto de vista da logística do dia-a-dia, como é que as coisas vão funcionar”.

“A linha tem de ter capacidade de resposta” e “capacidade de formação, diferenciadora” das pessoas que estão a atender as chamadas, para que possam ser tomadas “as decisões que são absolutamente corretas”, defendeu, indicando que a Ordem dos Médicos ainda vai analisar e avaliar “todos os componentes que irão estar incluídos nas portarias que têm de ser publicadas”.