Falando numa conferência de imprensa virtual na sede da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra, o responsável salientou que a questão foi estudada detalhadamente na OMS e acrescentou que as crianças têm um baixo risco em relação à doença covid-19, mas estão muito expostas a outras doenças e infeções, que são prevenidas pelo leite materno.
Tedros Adhanom Ghebreyesus disse ainda que mesmo em casos de mães com suspeitas de infeção ou com infeção pelo novo coronavírus devem ser encorajadas a começar ou continuar o aleitamento e não devem ser separadas dos filhos.
Anshu Banerjee, diretor da OMS para a área da saúde maternoinfantil, disse também que até agora não foi ainda detetado o vírus ativo no leite materno nem foi estabelecida a transmissão da covid-19 de mãe para filho através do leite materno.
Numa conferência de imprensa dedicada hoje especialmente às mulheres, crianças e adolescentes, no âmbito da covid-19, a OMS convidou a intervir diversas personalidades, tendo Tedros Ghebreyesus dado o mote ao dizer que as mulheres podem ter riscos acrescidos em complicações derivadas do parto, devido à interrupção de serviços de saúde.
E os jovens, acrescentou, também estão sujeitos a maiores riscos de depressão ou ansiedade, entre outros como estarem mais expostos a assédio através da internet, sem contar com os milhares de jovens que recebiam alimentação e desporto através das escolas, que agora estão encerradas.
Natalia Kanem, diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a População, uma das convidadas, disse que milhares de mulheres podem morrer devido a complicações preveníveis no parto, e acrescentou que a cada seis meses de confinamento 47 milhões de mulheres perdem acesso a contracetivos e que isso resulta no nascimento de sete milhões de crianças não desejadas.
A responsável alertou ainda para o aumento de situações de violência de género, “uma pandemia dentro da pandemia”.
Gabriela Cuevas Barron, presidente da União Interparlamentar e outra das intervenientes, também se referiu ao aumento da violência de género e deixou outros números: 42 a 66 milhões de crianças podem cair na pobreza máxima devido à atual crise sanitária. E considerou fundamental que se dê prioridade à continuação de serviços de aconselhamento sexual e de reprodução.
Uma sugestão idêntica deixada também por Jayathma Wickramanayake, enviada do secretário-geral da ONU para a juventude, que alertou para o “exacerbar de dificuldades” provocado pela covid-19 junto especialmente de jovens migrantes, de minorias sexuais, de jovens refugiados, doentes com sida, presos ou pobres.
“Os jovens não estão a receber serviços de informação sexual, os jovens não estão a receber educação nas escolas”, disse, alertando para o aumento de distúrbios psicológicos nessa população, como casos de depressão ou ansiedade.
Devido ao impacto da pandemia do novo coronavírus, segundo Mary-Ann Etiebet, diretora executiva da organização “Merck for Mothers”, nos próximos seis meses podem morrer um milhão de crianças e 50 mil mães.
Na conferência de imprensa os responsáveis da OMS insistiram na ideia de que uma vacina, quando existir, deve tornar-se “um bem público global”, admitiram que o conhecimento da covid-19 em relação a crianças e adolescentes “é limitado”, e reafirmaram que se na Europa parte dos países estão a retomar aos poucos as atividades no hemisfério sul ainda se está no “pico da pandemia”.
“É difícil lutar contra o vírus num mundo dividido”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, acrescentando que este momento de covid-19 devia ser “um momento de humildade”, porque nem a Europa está segura nem “ninguém está a salvo até todos estarem a salvo”.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 421 mil mortos e infetou mais de 7,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.505 pessoas das 36.180 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.
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