“As notícias dos últimos dias sobre o reaparecimento do urso pardo em Portugal vêm reforçar a necessidade da definição e implementação de estratégias transfronteiriças ao nível da gestão e conservação de espécies selvagens”, declarou o biólogo à agência Lusa.
Carlos Fonseca é o coordenador científico de um projeto luso-espanhol em que uma equipa do Departamento de Biologia da UA, em conjunto com o Fondo para la Protección de los Animales Salvages (FAPAS), “está há três anos a monitorizar a população de ursos da Cordilheira Cantábrica, nomeadamente da subpopulação ocidental, usando como ferramenta a genética”.
Diversos vertebrados selvagens “partilham o espaço transfronteiriço”, entre Portugal e Espanha, incluindo ungulados como a cabra-montês, o veado, o corço e o javali, carnívoros como o lobo-ibérico e o lince-ibérico, e várias aves, designadamente a águia-imperial-ibérica, o abutre-preto e a águia-de-bonelli.
“A presença do urso pardo em Portugal, confirmada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, tem de ser encarada de uma forma prudente e responsável, uma vez que deverá tratar-se de um episódio de incursão em território nacional de um urso dispersante, com um comportamento errático, provavelmente um animal jovem, proveniente de uma das subpopulações da Cordilheira Cantábrica, e que, também provavelmente, já terá regressado ao território espanhol”, afirmou.
Segundo Carlos Fonseca, “esta informação só deverá ser conhecida após a análise genética de alguns indícios de presença deste animal explorador e da monitorização regular e sistemática realizada pelas equipas espanholas e portuguesas”.
O projeto, além de fornecer dados demográficos detalhados sobre a população de ursos pardos no território cantábrico, “vai dando informação sobre a dispersão dos animais, estando demonstrada a sua dispersão para sul, podendo estar o norte de Portugal na rota de expansão desta espécie”.
Na sua opinião, contudo, “dificilmente haverá a possibilidade do estabelecimento de uma população viável de ursos pardos” em Portugal, devido “à fragmentação do território e à pequena extensão de ecossistemas favoráveis” a este animal selvagem.
O especialista, que é também coordenador da Unidade de Conservação e Gestão de Vida Selvagem da UA, preconizou “um plano ibérico de gestão e conservação das populações de urso pardo, no qual devem ser incorporados dados sobre a biologia e a ecologia desta espécie, mas também programas de informação e sensibilização dirigidos à sociedade em geral e à população local em particular”, incluindo proprietários, apicultores e turistas.
Os dois países deverão seguir uma estratégia deste tipo, “de modo a que episódios como o que ocorreu recentemente no nordeste transmontano não se tornem fontes de alarmismos desnecessários ou de atração inadequada”, disse Carlos Fonseca à Lusa.
Um urso pardo foi avistado no Parque Natural de Montesinho, no início de maio, tendo causado danos num apiário da região.
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