Dezenas dos que haviam protestado horas antes contra a precariedade laboral na ciência, no exterior do Centro de Congressos, acompanharam de pé, na sala, a intervenção de Manuel Heitor com assobios quando o ministro disse que o Governo está "sempre a favor de mais emprego científico e mais diálogo".

Alguns dos manifestantes viraram costas ou pontuaram o discurso do ministro gritando "cumpram a lei!", numa referência à legislação que prevê a contratação de investigadores-doutorados em substituição de bolsas de formação de pós-doutoramento.

Irredutível, Manuel Heitor fez o balanço do Ciência 2018 e passou em revista as reformas feitas pelo Governo no setor e as metas alcançadas, como o de a despesa privada em investigação superar "pela primeira vez" a despesa pública.

Dirigindo-se indiretamente aos manifestantes, que volta e meia se riram quando falava, o ministro afirmou, irónico: "Todos queremos que todos vocês se riam".

No final do discurso, os bolseiros, que vestiam t-shirts pretas com um ponto de interrogação nas costas, voltaram a assobiar Manuel Heitor e gritaram "Carreiras é preciso" e "Contratos sim, bolsas não".

À saída, confrontado pela Lusa com o protesto, o ministro respondeu: "A minha luta é a do emprego científico".

Rejeitando responsabilidades do Governo, Manuel Heitor disse que "há resistências bem identificadas" de instituições em contratar investigadores, referindo em particular a Universidade de Lisboa, cujo reitor tem defendido a contratação de professores, uma possibilidade que a legislação de estímulo ao emprego científico permite.

Apesar de reconhecer entraves, apontados pelos bolseiros, o ministro frisou que as universidades "têm autonomia que tem de ser respeitada", cabendo ao Governo usar "a persuasão".

[Notícia atualizada às 20:39]