Falando sobre a apresentação aérea da Esquadrilha da Fumaça, parada naval e exibição do Exército no dia 7 na praia de Copacabana, a pedido de Bolsonaro e juntamente com uma iniciativa a favor de sua reeleição, Carolina Botelho avaliou que a festa dos 200 anos da independência do Brasil de Portugal, em vez de marcar um ato cívico dos brasileiros, será inevitavelmente associada à campanha eleitoral do Presidente.

"Esse é o grande alvo dele. A estratégia dele [Bolsonaro] é em direção a uma ação eleitoral (…) É só mais uma peça de um ‘marketing’ político visando o período eleitoral”, considerou a investigadora do Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e Opinião Pública da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Doxa/Iesp/UERJ).

Carolina Botelho também explicou que os eventos planeados pelo chefe de Estado brasileiro no Rio de Janeiro mostram que mantém a estratégia de falar com o seu público, que se tem tornado cada vez mais coeso, mas também mais restrito.

“Ele [Bolsonaro] não faz nenhuma questão de falar para outros grupos, então assim, isso é mais uma peça da campanha deles que eles têm usado. Não abandonou a estratégia de manter este grupo [de apoiantes] sempre unido”, destacou.

O uso político de uma data cívica que diz respeito a todos os brasileiros, e não apenas aos apoiantes do atual Presidente, porém, pode não surtir o efeito desejado e afastar eleitores se o chefe de Estado repetir um discurso radical usado na mesma data no ano passado, quando Bolsonaro declarou que não respeitaria mais decisões judiciais de um membro do Supremo Tribunal Federal, o juiz Alexandre de Moraes, a quem também chamou de “canalha”.

“Se tiver algum efeito nesse momento, com o atual estágio [da campanha] e as evidências das sondagens que temos observado vai ser um efeito negativo. [A mensagem] não vai para além da bolha [grupo de apoiantes] dele”, destacou a analista.

“Nos outros grupos [de eleitores], sejam os indecisos, sejam aqueles que de alguma forma votaram em Bolsonaro em 2018, mas estão muito desmotivados, ele não vai ganhar voto”, apontou.

Carolina Botelho explicou que as sondagens eleitorais sobre as presidenciais brasileiras, disputadas em outubro, têm mostrado que os principais grupos de eleitores são deslocados em torno de dois nomes: Luis Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro.

No entanto, a investigadora social avaliou que “aqueles que já votaram no Bolsonaro e agora estão indecisos ou de certa forma já convictos de que não vão voltar a votar nele saem exatamente por causa do radicalismo”.

“O efeito desse ato [no dia da independência], não vejo como algo em que ele [esteja] furando a bolha [obtendo novos apoios] vejo ele se distanciando cada vez mais de um eleitorado minimamente moderado”, acrescentou.

A investigadora também ponderou que a presença das Forças Armadas num ato que será usado em campanha indica que parte dos militares apoiam Bolsonaro, mas não se sabe qual a percentagem desse grupo.

“Há uma certa condescendência e uma certa fechada de olhos bastante providencial por parte das Forças Armadas em relação ao comportamento radical do Presidente”, frisou a analista.

Carolina Botelho concluiu alertando que eventos do bicentenário que procuram associar a festa da independência e os militares a Jair Bolsonaro mostra ao mundo que o governante brasileiro “bagunça regras institucionais para atender seu próprio público” e, isto, ao invés de projetar força, indica que está cada vez mais isolado.