“Apresentamos hoje um novo objetivo climático, mais ambicioso, que vai de 43% a 50% (redução) até 2030 e neutralidade de carbono até 2050, que será formalizado durante a COP26”, disse o ministro do Ambiente brasileiro, Joaquim Leite, numa emissão em direto de Brasília, durante um evento paralelo na cimeira climática.

O anúncio marcou o início, embora à distância, da participação do Brasil na COP26, apesar de o Presidente brasileiro ter optado por não participar na conferência, e de o ministro apenas se deslocar a Glasgow (Escócia) no próximo domingo.

Leite salientou que o mundo está à procura de “soluções” para enfrentar a crise climática e realizou reuniões bilaterais com mais de 60 países antes da COP26.

“Reforço os nossos compromissos de gerar uma economia que seja neutra em termos de emissões de gases com efeito de estufa, mas que, ao mesmo tempo, garanta a geração de empregos e rendimentos”, disse.

Por seu lado, Bolsonaro disse que o Brasil “não faz parte do problema”, mas sim da “solução” na luta contra as alterações climáticas, num vídeo de três minutos gravado e mostrado no pavilhão brasileiro em Glasgow, no qual não mencionou a Amazónia ou a desflorestação no país.

Bolsonaro decidiu não participar na cimeira e permaneceu em Itália, onde chegou na sexta-feira passada para participar na cimeira do G20 em Roma.

O governo de extrema-direita chega à conferência sob pressão da comunidade internacional, que está a instar o Brasil a melhorar os seus compromissos contra o aquecimento global.

Assim, Bolsonaro exortou no vídeo a mover “preocupações ambientais” para o “centro da agenda económica”.

“Vamos agir responsavelmente, procurando soluções reais para uma transição que se está a tornar urgente”, sublinhou.

Na última cimeira climática, o líder da extrema-direita prometeu fazer progressos na eliminação da desflorestação ilegal no Brasil até 2030, mas desde que chegou ao poder, em 2019, a devastação ambiental tem batido recordes consecutivos.

As organizações ambientais e mesmo a comunidade internacional atribuíram os elevados níveis de destruição às polémicas políticas ambientais de Bolsonaro, que defende a exploração dos recursos naturais da Amazónia e flexibilizou os controlos sobre atividades, como a exploração mineira e o comércio da madeira.

Segundo dados oficiais, a desflorestação só na Amazónia brasileira no primeiro semestre do ano cresceu 17,1% em comparação com o mesmo período em 2020, o que representa 3.609 quilómetros quadrados de floresta.

Do mesmo modo, a desflorestação nos seis ecossistemas do país estendeu-se por 13.853 quilómetros quadrados em 2020, uma área 13,6% maior do que a destruída no ano anterior.

Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre alterações climáticas (COP26) para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.

A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.

Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.