“Na sexta-feira eu vou ter uma entrevista com a ministra do Trabalho [Ana Mendes Godinho] aqui de Portugal para ver como é que Portugal está levando esse assunto”, revelou, acrescentando que o Brasil está muito interessado em ver como é que a gente pode aproveitar dessa experiência que já está acumulada aqui”.

“O movimento sindical português sempre foi uma referência para nós no Brasil. E, portanto, vamos tentar. Portugal é uma referência em tudo”, vincou Gilberto Carvalho, que falou à Lusa à margem dos trabalhos do XI Fórum Jurídico do Brasil, que termina hoje em Lisboa.

Chefe de gabinete nos dois mandatos anteriores do Presidente Lula da Silva (2003-2011), Gilberto Carvalho foi ministro da Secretaria-Geral da Presidência no governo da Presidente Dilma Rousseff e também presidiu ao Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (Sesi).

Gilberto Carvalho era considerado um dos auxiliares mais próximos e influentes de Lula da Silva, tendo integrado na campanha presidencial de 2022 o núcleo político do candidato que derrotou Jair Bolsonaro.

Questionado sobre como pode Lula da Silva fazer a ‘quadratura do círculo’, isto é, como gerir as promessas eleitorais que lhe deram a vitória na segunda volta das presidenciais em 30 de outubro de 2022, perante um Congresso maioritariamente de direita, Gilberto Carvalho reconhece que se trata do “principal desafio” que classificou como “muito difícil”.

“Nós no Brasil, porque tivemos uma vitória muito apertada no executivo, graças em grande parte ao carisma do Lula e tivemos uma derrota fragorosa no legislativo, onde a direita, graças inclusive ao mecanismo chamado orçamento secreto, se municiou de muitos recursos e ganhou a eleição no legislativo. Então nós estamos vivendo uma situação muito difícil. O próprio Presidente Lula, com toda a sua habilidade, tem enorme dificuldade porque você tem limites éticos. Você não pode fazer concessões”, respondeu.

Gilberto Carvalho destacou também a “mobilização popular” que disse ser “uma forma de pressão sobre o Congresso”.

“Apesar de tudo, é muito difícil você governar um país que foi destruído. Sobretudo aqueles mecanismos que tínhamos criado de proteção social, de cuidado com os pobres, foram não só anulados como destruídos os instrumentos para isso. Mas isso não nos desanima. Já há sinais bons no país”, adiantou.

Gilberto Carvalho abordou ainda as dificuldades por que passa o movimento sindical no Brasil.

“O Brasil é um país muito contraditório. Tem grandes avanços sociais, económicos. Mas só nesse ano nós já tivemos que liberar mais de 500 pessoas que estavam em trabalho considerado similar à escravidão. Então ainda tem um lado do país extremamente atrasado e as consequências culturais e práticas da escravidão longa que nós tivemos, são uma marca, uma ferida exposta que a todo tempo reaparece. Ainda se pratica o trabalho escravo. Então esse é um desafio ético, político e legal, fundamental para nós”, afirmou.

“O outro desafio é recuperar os direitos dos trabalhadores porque desde o governo (do Presidente Michel) Temer, depois com o (do Presidente Jair) Bolsonaro, os trabalhadores, o governo sindical em particular, perdeu muitos direitos, eles para fragilizar os trabalhadores, tentaram inviabilizar, na prática, economicamente, as centrais sindicais, de modo que elas mal conseguem sobreviver. Hoje estamos a buscar uma reforma para devolver esses direitos aos trabalhadores”, frisou.

A dificuldade passa por reconciliar os novos trabalhadores com o movimento sindical.

“Há uma característica também a se notar que esses novos trabalhadores, eles não gostam muito do movimento sindical, eles não se encontram nas formas antigas de expressão, então aí também tem um desafio que é compreender que é uma nova cultura”, concluiu.