Há muito que a bandeira brasileira e a camisola ‘canarinha’ da seleção se tornaram símbolos do ‘bolsonarismo’ e hoje não foi exceção: Passavam pouco das 05:30 e as ruas em volta da Esplanada dos Ministérios já estavam a ganhar vida, com vários grupos de pessoas vestidas com as cores da bandeira brasileira a irem caminhando para os cerca de 20.000 lugares das bancadas.
“Lula ladrão, seu lugar é na prisão”, ia-se entoando um pouco por toda a cidade.
Os vendedores de toalhas e bandeiras hoje só tinham à disposição uma cara: Jair Bolsonaro.
“O datapovo hoje mostra quem vai ganhar. Nem o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] vai conseguir”, conta à Lusa Marcelo, o ‘líder’ de um grupo de sete pessoas que vieram juntos de Alexania, uma pequena cidade brasileira do cerrado a cerca de 100 quilómetros da capital.
“Hoje é dia de mito. É agora ou nunca!”, disse um dos integrantes do grupo, numa alusão a Bolsonaro, empunhando uma bandeira do Brasil, uma t-shirt de Bolsonaro e um chapéu de cowboy.
Já em frente à bancada onde as principais personalidades assistirão ao desfile cívico-militar, que mais se assemelha a uma dia de campanha política para a reeleição do Presidente brasileiro nas eleições presidenciais de 02 de outubro, encontra-se outro grupo que veio do sul do país.
Empunhando uma bandeira do Paraná, com a bandeira brasileira a fazer de capa, Irene, sorridente, grita: “Hoje é dia de liberdade!”, ao mesmo tempo que a sua filha Juliana entoava o ritmo que outrora serviu para chamar a cantora Ivete Sangalo: “Bolsonaro, cadê você, eu vim aqui só para te ver”.
Oriunda da cidade de Curitiba, Karla conta à Lusa que para ela hoje “é um dia de esperança”, personificada pelo “seu mito, Bolsonaro”.
Por ele, explica, já esteve em São Paulo no ano passado, só para o ver.
Brasília e o Rio de Janeiro acolhem hoje desfiles cívico-militares e manifestações de apoio ao Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, por ocasião do bicentenário da independência do Brasil, eventos que colocaram as duas cidades em estado de alerta de segurança.
A Força Nacional de Segurança Pública foi acionada para atuar em Brasília: “O emprego da Força Nacional, em caráter episódico e planeado, nas ações de preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do património, na defesa dos bens e dos próprios da União, no interior do Palácio da Justiça”, lê-se num texto divulgado no Diário da União.
Espera-se cerca de 280 mil participantes no desfile oficial em Brasília que terão de passar por revista, estando proibidos vários itens como armas, mastros de bandeira, vidros, sprays e apontadores de laser, entre outros.
Atiradores especiais e equipas anti-bombas estarão no local e as forças de segurança vão monitorizar as estradas que dão acesso à capital do país. A Cavalaria, o Batalhão de Policiamento com Cães e o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) também estarão presentes.
A Esplanada dos Ministérios, em Brasília, que concentra as sedes dos três poderes no Brasil, para onde está marcado o desfile oficial do Exército Brasileiro, foi encerrada ao trânsito na segunda-feira à noite para bloquear o caminho aos camiões dos apoiantes de Bolsonaro que queriam estacionar perto dos locais de poder.
Na segunda-feira, um juiz do Supremo Tribunal Federal limitou temporariamente o alcance dos decretos do Presidente Bolsonaro que facilitam o acesso a armas de fogo, devido ao “risco de violência política” durante a campanha eleitoral.
Há um ano, manifestantes pró-Bolsonaro, incluindo camionistas, quebraram um cordão policial e ameaçaram invadir o Supremo Tribunal.
Este ano, as principais cidades do país reforçaram as estruturas de segurança para os desfiles e manifestações para o dia da independência, que desde a chegada ao poder de Jair Bolsonaro se tornou num dia de demonstração de força política por parte da direita conservadora.
O Presidente brasileiro pediu aos seus seguidores que saíssem à rua “pela última vez” este 07 de Setembro. Espalhados pela cidade de Brasília, vários cartazes dizem: “É agora ou nunca”.
Analistas citados pela imprensa local disseram acreditar que o tom de Jair Bolsonaro será mais brando até para atenuar a sua taxa de rejeição que, a menos de um mês do seu ‘embate’ eleitoral com Luiz Inácio Lula da Silva, se situa nos 52%. A primeira volta das eleições brasileiras realiza-se em 02 de outubro.
Ainda assim, o dia poderá ser utilizado para uma demonstração de força política, especialmente no desfile em Brasília e no Rio de Janeiro.
Na capital, o desfile está previsto para as 09:00 locais e deverá contar com a presença do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, do presidente da Assembleia da República portuguesa, Augusto Santos Silva, e dos chefes de Estado de Cabo Verde, José Maria Neves, e da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, além de representantes dos restantes países de língua oficial portuguesa.
Também o secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Zacarias da Costa, participa nas comemorações.
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