Situada na zona de Quebra Canela, à beira mar, o altar feito de betão era, há 30 anos, quando o Papa João Paulo II visitou Cabo Verde, das poucas estruturas existentes no local.

Atualmente, o espaço tem mais movimento, com mais casas, bares, restaurantes, parque de estacionamento, um centro comercial, estrada asfaltada, enquanto o palco, erguido ao sopé da encosta do bairro de Achada de Santo António, continua a degradar-se.

José Constantina Bento, pároco na paróquia de Nossa Senhora de Socorro, em Achada de Santo António, faz parte atualmente da equipa responsável pelo património da Diocese de Santiago de Cabo Verde, e estava na equipa de preparação da visita de João Paulo II ao país.

Em entrevista à agência Lusa, recordou que foi só em setembro de 1989 que se soube publicamente que o Papa iria visitar o país.

Por isso, ainda se lembra da correria para organizar tudo, inclusive que foi nos quatro meses seguintes que se ergueu o altar em Quebra Canela, que até hoje não sofreu grandes requalificações, estando a degradar-se a cada dia.

Um cenário que o padre disse que não se deve à falta de projetos, porque há algumas propostas, mas sim por falta de financiamento.

“Penso que a simbologia que marca a história, às vezes ela não vem diretamente por obras que se fazem no espaço, mas por recordar aquilo que o espaço representa. Penso que não se perdeu ainda na mente das pessoas que aqui o Papa esteve e que celebrou. Isso é que ainda nos está a ficar na memória”, afirmou o padre Constantina Bento.

“No entanto, para as pessoas que não tinham nascido nessa época e para as que eram pequenas e que não puderam registar as imagens na mente, compete-nos a nós conseguir transmitir essa realidade. Vamos usando a palavra e os testemunhos que nos vão dando, mas a valorização do espaço também terá o seu cunho e que chegará o tempo em que ele vai aparecer”, prosseguiu.

O padre disse que têm havido propostas de projetos que são analisadas e amadurecidas, mas o que falta mesmo é a sua concretização a prática, não se sabe quando e a que custo.

“Praticamente é isso, porque projetos têm surgido, se houvesse financiamento já teriam andado”, salientou, dizendo que a ideia é equilibrar o espaço, para ser de recolhimento e oração dos fiéis.

Entretanto, sublinhou que o grande problema é conciliar o silêncio nessa zona, que é atualmente uma das mais movimentadas da capital cabo-verdiana.

“Isto é o grande problema, ter aqui condições de criar esse tal silêncio”, continuou, indicando que se pretende ainda ter um espaço para visitas, exposições, conferências, e aberto à sociedade.

Também há a ideia de ligar o altar com a Praça Papa João Paulo II (o Cruz de Papa), construída num miradouro já no bairro de Achada de Santo António, em recordação da primeira e única visita de um chefe da igreja católica a Cabo Verde.

Atualmente, o espaço onde funcionou a sacristia está a ser ocupado por uma família, que segundo o padre, precisava de casa, e como a Diocese precisava de guardar o local, essas pessoas ocupam essa função.

O padre Constantina Bento disse que o altar não é só um património da Diocese de Santiago, e que poderá ultrapassar o país, porque foi ali que o Papa releu a história de Cabo Verde até então.

Trinta anos depois, o pároco afirmou que foi “uma grande honra” um agora Santo ter celebrado uma missa na paróquia que dirige, Nossa Senhora do Socorro.

“Aqui neste espaço foi o culminar de uma caminhada para mim extraordinária e cheia de adrenalina”, recordou Constantina Bento, para quem a visita do Papa João Paulo II ao país ainda não acabou e só a História vai dizer o que o país ganhou com esse momento.

“Penso que ainda não podemos dizer tudo aquilo que ganhámos. Ao reler nestes dias a homilia do Papa aqui em Quebra Canela, que é considerado o resumo de toda a visita, vejo que ainda há muita coisa que estamos por conseguir e que ele nos chamou a atenção e convidou-nos a procurarmos”, afirmou.

Entre essas coisas que o país ainda não conseguiu realizar, Constantina Bento mencionou o papel que os leigos devem desempenhar na igreja, de serem o fermento, mas também de não terem medo de ocupar lugares importantes e de testemunhar a sua fé.

Uma nova visita do Papa é algo sempre aguardado no país, mas o padre Constantina tem apenas uma certeza: não quer entrar na organização, mas sim ficar “quietinho a saborear”.

O padre disse que a visita do Papa “é uma possibilidade”, bastante falada, sobretudo enquadrado neste período de celebração dos 30 anos da primeira, e que o país deve sempre contar com isso.

Por outro lado, explicou que a visita de João Paulo II ainda está em marcha, justificando com a criação de outra Diocese no arquipélago, a do Mindelo, 500 anos depois da primeira.

E afirmou que o país não está abandonado nem esquecido, e a prova disso é que o bispo de Santiago, Dom Arlindo Furtado, foi nomeado cardeal, para ser conselheiro do Papa Francisco.

“É uma presença. Estamos muito perto no relacionamento. O mundo é grande, o Papa tem que visitar todos, mas nós também queremos a nossa parte. Será quando vier”, terminou.

O Papa João Paulo II aterrou na ilha cabo-verdiana do Sal a 25 de janeiro de 1990, tendo depois passado pelas ilhas de Santiago e São Vicente, numa visita que terminou a 27 desse mês.

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