O estudo publicado argumenta que "a diversidade genética única desses cães" torna-os "candidatos ideais" para estudos futuros destinados a entender os efeitos genéticos de longo prazo de ambientes muito radioativos na saúde de grandes populações de mamíferos.
A pesquisa, cujos detalhes foram publicados na sexta-feira, foi liderada por Gabriella Spatola, do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano da Universidade da Carolina do Sul, e por Elaine Ostrander, do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano.
Logo após a maior catástrofe nuclear da história ter ocorrido em Chernobyl, em abril de 1986, o governo soviético ordenou a evacuação da área ao redor da central nuclear e o abate de animais domésticos.
A ZEC foi dividida em quatro zonas e a quarta, a mais próxima da central e a mais perigosa, tem um raio de 30 quilómetros.
Ao longo dos anos, a falta de humanos favoreceu o regresso da vida selvagem e a presença de animais selvagens, alguns deles, como os cães, descendentes dos animais domésticos que ali permaneceram.
Alguns estudos analisaram os efeitos genéticos da exposição à radiação ionizante (sabe-se que aumenta as taxas de mutação genética em várias espécies de plantas e animais), mas continua por esclarecer como pode afetar populações de animais de grande porte, como os cães.
Para descobrir, Gabriella Spatola e a sua equipa usaram amostras de sangue de 302 cães selvagens recolhidas entre 2017 e 2019 pela Chernobyl Dog Research Initiative, que desde 2017 presta atendimento veterinário a esses cães e recolhe amostras para análise genética.
As amostras foram recolhidas de cães que vivem na cidade de Chernobyl (15 km) e em Slavutych (45 km).
A equipa identificou 15 estruturas familiares complexas exclusivas da população de Chernobyl em comparação com outros cães de todo o mundo e com amplas variações genómicas dentro e entre as localizações geográficas da ZEC, sugerindo que esses cães se movem entre locais, vivem próximos uns dos outros e reproduzem-se livremente.
Com estes dados, o estudo conclui que “a população canina de Chernobyl tem grande potencial para informar estudos sobre a gestão de recursos ambientais numa população ressurgente”.
No entanto, em declarações à SMC Espanha, James Smith, da Universidade de Portsmouth (Reino Unido), disse acredita que o estudo "apenas mostra que há uma mistura diferente de raças e famílias em Chernobyl em comparação com outros locais, o que não é uma descoberta surpreendente", dado que a população atual depende da mistura particular de raças que sobreviveram ao abate de animais domésticos em 1986.
Na mesma linha, Germán Orizaola, da Universidade Espanhola de Oviedo, disse acreditar que o estudo descreve apenas a estrutura da população selvagem de cães de Chernobyl, mas como não inclui dados sobre a exposição à radiação, considera que não serve para estudar os efeitos de radiação nestes animais.
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