“A tutela está na Direção Geral de Património do Estado, dependente do Ministério das Finanças. Se fosse um património privado a câmara tinha mecanismos que podia ativar, como expropriação ou posse do edifício. Sendo património do Estado, nós que também somos Estado, mas Estado local não temos capacidade legal para nos pudermos sobrepor”, disse hoje à agência Lusa, Carlos Carreiras.
O Forte de Santo António da Barra, edificado durante a ocupação filipina teve um papel relevante no âmbito da Restauração da Independência (1640), constituindo um ponto importante do sistema de defesa marítima de Lisboa.
Mais recentemente foi utilizado pelo Colégio de Odivelas e, durante o Estado Novo, como residência de férias do ditador António Oliveira Salazar.
O edifício, situado numa escarpa junto à marginal de Cascais na zona de São João do Estoril, encontra-se abandonado e vandalizado: muitos grafitis foram pintados nas muralhas assim como nas dependências interiores, incluindo a capela, guaritas e nos quartos dos pisos superiores.
Muitos azulejos históricos foram vandalizados e as janelas e o pouco mobiliário estão destruídos.
“Da parte da Câmara estamos completamente impotentes e isso deixa-nos revoltados porque estamos a ver uma coisa que pudemos fazer de forma positiva e, que, ao fim ao cabo, não pudemos fazer nada”, lamenta o autarca de Cascais.
O social-democrata Carlos Carreiras diz que tem contactado várias entidades “ao nível do poder central” frisando, no entanto, que existe sensibilidade para resolver o assunto.
O autarca refere mesmo que existe vontade política por parte do primeiro-ministro, António Costa, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para que se transfira a competência do forte para a Câmara Municipal de Cascais.
“Isso até nos deixa mais preocupados. Se ao nível mais elevado da estrutura do Estado uma vontade política não é concretizada. Enfim … não há outra instância a quem se possa recorrer para se concretizar a transferência para a Câmara Municipal de Cascais”.
Caso a situação venha a ser eventualmente solucionada, Carlos Carreiras admite que no local possa vir a ser sediada a BioMarine, uma organização que se dedica às estratégias ligadas ao mar, a nível mundial, ou o instituto Political Forum que tem sob a alçada as Conferências do Estoril.
Os painéis decorativos de azulejos instalados no forte de Santo António da Barra são alusivos aos Descobrimentos, mas a maior parte encontra-se vandalizada: desenhos com temas marítimos e estrofes de “Os Lusíadas” de Luís de Camões e também um excerto de “A Mensagem” de Fernando Pessoa.
A referência mais recente ao mar é o desenho do veleiro “Cutty Sark” mas encontra-se no rótulo de uma garrafa de uísque estilhaçada junto a uma parede onde está colocada uma placa de mármore branco descerrada em novembro 1973 pelo então presidente da República, Américo Thomaz que recorda que Salazar ocupou o forte “nos meses de verão” entre 1950 e 1968.
No dia 03 de agosto de 1968, uma queda no chão de pedra do forte de Santo António da Barra provocou um hematoma a Salazar e a consequente degradação do estado de saúde do ditador que viria a morrer em 1970.
Junto ao portão do forte, uma das poucas frases percetíveis pintadas por desconhecidos diz: “esta cadeira mata fachos”, escrita com tinta azul, a única referência política ao incidente que acabou por vitimar Salazar.
O portão do complexo tem um pequeno aloquete que aparenta ser novo e que impede a entrada de veículos, mas a rede ao lado das grades está cortada deixando o espaço exposto de dia e de noite.
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