Reportagem por: José Sousa Dias (texto) e João Relvas (fotos) da agência Lusa
"Sem ofender João Lourenço", o chefe de Estado angolano, disse à Lusa um grupo de populares no recentemente elevado a município da Catumbela, onde as autoridades locais indicaram estarem concentradas entre 10 a 15 mil pessoas a receberem o Presidente português, que chegara de comboio numa deslocação de cerca de 25 minutos e que começou no Lobito.
No entanto, o mesmo grupo, chamado à atenção por outros angolanos que se queriam juntar aos que gritavam e cantavam, acabou por retirar a "ideia", ao considerarem que o respeito pela soberania de Angola estava a ser posto em causa.
"Mas era bom que João Lourenço também fosse assim", desejaram uns, contrariados por outros, lembrando que "cada um tem o seu estilo", desdramatizando as "cenas de histeria", sobretudo de jovens mulheres, enquanto Marcelo cumprimentava todos, ao longo de quase meio quilómetro na Avenida Paulo Dias de Novais (Estrada Nacional 110), que atravessa toda a Catumbela.
A visita de Marcelo acabou, porém, por ficar quase ofuscada pelo calor, danças, cantarias e gritos dos populares, que não o largavam, perante o desespero da equipa de segurança e da polícia, que lhe pedira, assim que desceu do comboio, para seguir para o carro e evitar cumprimentar a população.
Durante cerca de meia hora, vários grupos de dança tradicionais locais dançavam e cantavam frases como "camarada Rebelo de Sousa, agora é Angola, agora que nós precisamos da cooperação, é assim, é o nosso lema".
"Para um dirigente estrangeiro nunca vi nada assim [em Angola]. Bastante acima da média", disse à Lusa o administrador municipal da Catumbela, Julião Ambrósio Almeida, indicando que o município conta com cerca de 220 mil habitantes e garantindo que mais de duas centenas de pessoas estavam na "Paulo Dias de Novais" desde manhã cedo a aguardar pelo Presidente português.
"Catumbela vos ama. Nós amamos a si, podemos dizer", cantava-se, enquanto Marcelo continuava imparável a furar protocolo atrás de protocolo, com a segurança destacada a desdobrar-se em esforços para conter uma população eufórica, a quem o Presidente português nada negava.
Houve mesmo populares que foram mais longe e pediram a Marcelo que trouxesse o jogador português Cristiano Ronaldo a Angola, de preferência à Catumbela.
Mais um banho de multidão, depois do "mergulho" dado quinta-feira no Lubango em que, à semelhança do Lobito e da Catumbela, em que, tal como previra João Lourenço, o Presidente português iria ser uma "estrela" ao longo dos dias da visita de Estado a Angola.
"Não, não estava à espera. Confesso que não. Foi realmente muito interessante. É um município novo, embora seja [uma localidade] muito antiga. Tudo isto significa que os angolanos perceberam que Angola e Portugal estão muito próximos e que querem essa proximidade", respondeu Marcelo aos jornalistas, que conseguiram ir fazendo as perguntas possíveis no meio da multidão.
A pergunta era inevitável e a comparação também, mas veio de um popular: "Quem nos dera que João Lourenço fosse assim", uma vez que a comunicação social angolana tem estado a insistir na ideia de que não vê o Presidente angolano a estar "tão próximo" da população como Marcelo.
Mas a resposta do Presidente português saiu rápida: "Se há Presidente próximo [das populações] é João Lourenço".
Antes, no Lobito, Marcelo teve oportunidade de acompanhar de perto a reconstrução do importante porto local, construído na sequência do início da história do caminho de ferro de Benguela, em 1903, e que, depois de anos de abandono e degradação após a independência de Angola, em 1975, foi alvo de um programa de reabilitação, em curso desde 2008.
No curto trajeto do porto para a estação de comboio do Lobito, tempo ainda para mais um pequeno banho de multidão, com Marcelo a cumprimentar tudo e todos e, rompendo de novo o protocolo, começou a andar apressado para cumprimentar o maquinista, para cuja cabine subiu e cumprimentou para a inevitável fotografia.
Da Catumbela para Benguela, em linha reta, cerca de 20 quilómetros, o trajeto decorreu sem sobressaltos, mas, à entrada da capital provincial, as cenas do Lubango voltaram a repetir-se, com Marcelo a subir para o estribo do automóvel para, em velocidade lenta, saudar, de pé, os populares que se encontravam dos dois lados da estrada, grande parte deles com bandeiras angolanas e portuguesas, cortejo lento que só terminou à entrada do Palácio do Governador.
Hoje à tarde, Marcelo e comitiva regressam a Luanda, para cumprir o resto da agenda do terceiro dia da visita de Estado a Angola, com a participação na entrega do Prémio Manuel António da Mota na unidade hoteleira da capital angolana onde tem estado hospedado, a que se seguirá uma receção à comunidade portuguesa que contará com a presença do casal presidencial angolano.
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