O canal de comunicação de Panmunjom, uma pequena vila na fronteira entre os dois países onde o cessar-fogo da Guerra da Coreia (1950-53) foi assinado, foi reaberto às 06h30, hora de Lisboa, após ter estado quase dois anos fora de serviço.
"A conversa telefónica durou 20 minutos", disse à AFP um funcionário do ministério da Unificação da Coreia do Sul, sem adiantar mais detalhes.
Recentemente, o governo de Seul propôs diálogo ao seu vizinho do Norte, como resposta a um gesto do líder norte-coreano, que evocou uma possível participação nos Jogos Olímpicos de Inverno que acontecem no próximo mês na Coreia do Sul.
Kim Jong-Un aproveitou o seu discurso de Ano Novo à Nação para esse raro gesto em direção ao Sul, num contexto de crescente tensão. Nos últimos meses, o Norte realizou uma série de disparos de mísseis balísticos e o seu sexto teste nuclear, avançando nas suas ambições militares.
Seul propôs a realização, a 9 de janeiro, pela primeira vez desde 2015, de discussões de alto nível em Panmunjom sobre as Olimpíadas, mas também sobre "outras questões de interesse mútuo para a melhoria das relações intercoreanas".
O líder norte-coreano também aproveitou o discurso de Ano Novo para reiterar que o seu país é um Estado nuclear, advertindo que mantém sempre o "botão atómico" ao alcance dos dedos.
"Maior e mais poderoso"
A declaração provocou um novo tweet (mensagem na rede social Twitter) de Donald Trump, no estilo muito particular do presidente norte-americano.
“O líder norte-coreano Kim Jong-un acaba de afirmar que o ‘botão nuclear continua na sua secretária’ (…) informem-no que eu também tenho um botão nuclear, muito maior e mais poderoso, e que funciona!”, escreveu Donald Trump, numa mensagem na rede Twitter.
Trump respondeu assim ao discurso proferido pelo “número um” da Coreia do Norte no primeiro dia de 2018.
Washington também rejeitou a perspetiva de um diálogo intercoreano.
A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, considerou que o país "não levará a sério qualquer reunião (entre Seul e Pyongyang) que não preveja a total proibição de armas nucleares na Coreia do Norte".
Já a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, disse que Kim "pode estar a tentar romper a ligação" entre Seul e Washington.
Pyongyang não parece incomodada com a reação americana. Kim Jong-Un saudou o apoio de Seul à proposta, segundo com Ri Son-Gwon, chefe do Comité norte-coreano para a Reunificação Pacífica da Coreia (CRPC).
O Norte e o Sul estão separados há décadas pela Zona Desmilitarizada, uma das fronteiras mais fortemente armadas do mundo. As últimas discussões bilaterais, em dezembro de 2015, fracassaram.
A linha telefónica de Panmunjon era utilizada duas vezes por dia antes de ser interrompida em fevereiro de 2016, após a deterioração das relações bilaterais por causa de uma disputa sobre o complexo industrial conjunto Kaesong.
"Oportunidade para a paz"
O presidente sul-coreano, Moon Jae-In, há muito defende o diálogo, mas Washington sempre sublinhou que não aceitará uma Coreia do Norte com armas nucleares.
Pyongyang diz que precisa da arma atómica para se proteger da hostilidade de Washington, e tenta desenvolver uma ogiva nuclear capaz de atingir o território continental dos Estados Unidos.
A ONU adotou uma série de sanções na tentativa de dissuadir a Coreia do Norte, porém, não teve sucesso.
Moon elogiou o Norte por dar "uma resposta positiva à proposta de tornar os Jogos Olímpicos de Pyeongchang numa oportunidade revolucionária para a paz".
Qualquer aproximação intercoreana ocorreria num contexto de suspeita ou até mesmo de hostilidade por parte de Washington, enquanto Kim e Trump trocam insultos pessoais há meses.
O presidente americano chamou "gorducho" e "homem foguete" a Kim. Já o líder norte-coreano descreveu o ocupante da Casa Branca como "um velho mentalmente perturbado".
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