“É tudo à volta de 600, 650, 700, 750 euros. Fora de Lisboa também tenho procurado, o problema é que os preços são todos iguais”, conta Manuela Silva à Lusa, à porta do ‘bungalow’ onde foi provisoriamente instalada com o marido e o filho pela Proteção Civil de Lisboa desde que em outubro foi despejada da casa que vivia, em subaluguer, há cerca de 18 anos.
Manuela, 43 anos, conta que tem procurado alternativas que possa pagar em concelhos como a Amadora, Almada, Barreiro ou Sintra, mas sem sucesso, prolongando a estadia no parque de campismo, no pagamento da qual tem colaborado a Junta de Freguesia da Ajuda e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
“Aparece uma pessoa com um ordenado maior do que o nosso, vão logo dar [a casa] a essa pessoa, temos de ser realistas”, lamenta.
Funcionária do Centro de Saúde da Graça, Manuela e o companheiro, que se encontra desempregado, têm um rendimento conjunto de cerca de mil euros, o que os coloca fora da elegibilidade para uma habitação municipal.
“Disseram que, com os rendimentos que tenho, não dá para a candidatura da habitação social, que é só para quem tem os rendimentos mínimos”, contou.
O presidente da Junta de Freguesia da Ajuda, Jorge Marques (PS), diz que, “infelizmente, estão num limbo”. “Com o rendimento que têm, não conseguem concorrer a habitação municipal, mas também não têm capacidade para pagar o que o mercado lhes pede”, afirma o autarca, que diz que diariamente a Junta acode a este tipo de situações.
Aquele que começou por ser um problema do centro da cidade hoje “toca às freguesias mais periféricas”: “A nossa ação social está totalmente absorvida por problemas de habitação. Enquanto há uns tempos eram sobretudo problemas de emprego, de contas por pagar, neste momento estamos soterrados em problemas de despejos. É claramente o maior problema social que a cidade hoje enfrenta”.
Jorge Marques garantiu que tem dado “todo o apoio que é possível”, sublinha que o realojamento no parque de campismo não se pode prolongar, e diz que a solução deverá passar pelo apoio da renda, em um terço, por parte da Câmara Municipal de Lisboa, mas para isso é preciso encontrar uma casa.
Para dificultar o processo, a família não tem quem sirva de fiador, papel que não é permitido à junta desempenhar, refere ainda o autarca.
Contactada pela Lusa, a Santa Casa da Misericórdia respondeu por escrito que está a “trabalhar com o agregado na procura ativa de habitação”, em conjunto com a Junta, o departamento de Habitação da CML, a Escola Básica do 2.º e 3.º ciclos Francisco Arruda e a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Lisboa Ocidental.
“Foram disponibilizados meios por parte dos parceiros envolvidos, nomeadamente um técnico, transporte com motorista e computador, para proceder às visitas das habitações selecionadas”, acrescentou a Santa Casa, numa informação corroborada pelo presidente da Junta.
Manuela Silva garante que está ativamente à procura de casa e vai até fazer uma simulação no banco para compra de habitação ao abrigo do regime especial para pessoas com deficiência, mas acentua que “isso demora tempo”.
“Se alguém tiver uma casa temporária, nem que seja uma coisa pequena, agradecia do fundo do coração”, apela.
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