Depois da suspensão do julgamento do agora ex-marido de Gisèle, Dominique Pelicot, de 71 anos, e de outros 50 homens acusados de violação, pelo menos duas mil pessoas saíram às ruas da capital francesa para denunciarem a lassidão da justiça e a ineficácia da polícia em investigar casos de violação contra mulheres.
Na sexta-feira, o julgamento do caso de Gisèle Pelicot, que decorre em Avignon, no Sul de França, foi suspenso até segunda-feira, devido à ausência do principal arguido, dispensado das audiências por doença.
“Vamos tornar este processo histórico, porque não passa um dia sem que uma mulher me escreva a dizer: ‘Eu sou Gisèle Pélicot’. Lutaremos contra a impunidade e a cultura da violação, porque mais de 90% das denúncias de violação não são aceites para julgamento, a maioria nem sequer é investigada”, assinalou Anne-Cécile Mailfert, da associação Fondation Femmes.
“Vemos-te como um violador, acreditamos em ti como uma vítima” foi uma das frases mais entoadas pelos manifestantes, entre os quais um significativo número de homens, segundo relatou a agência espanhola EFE, a partir do local.
Foram ouvidas palavras de ordem contra “a cultura patriarcal” que atravessa o sistema policial e judicial.
Os organizadores da manifestação censuraram as palavras do presidente do Tribunal Penal de Vaucluse no julgamento contra Dominique Pélicot e outros 50 homens, que optou por falar em “cenas de sexo”, em vez de “violação”.
Dominique Pelicot está a ser julgado por ter drogado a mulher com ansiolíticos durante dez anos, desde julho de 2011 a outubro de 2020, antes de a violar e por, simultaneamente, ter recrutado dezenas de homens na internet para fazerem o mesmo.
Além dele, 50 homens, com idades entre os 26 e os 74 anos, estão a ser julgados, na maioria acusados de violação agravada, o que pode levar a uma pena de prisão de até 20 anos.
Dezoito dos acusados, entre os quais Dominique Pelicot, encontram-se em prisão preventiva. Outros 32 homens continuam em liberdade, enquanto um está dado como fugitivo e será julgado à revelia.
Os investigadores encontraram vídeos de Gisèle gravados pelo próprio marido, nos quais a mulher, inconsciente, está a ser agredida sexualmente por estranhos.
Gisèle Pelicot, de 71 anos, quis um julgamento de portas abertas e rapidamente foi transformada num símbolo da luta contra a violência sexual.
Segundo relatou a agência espanhola EFE, os manifestantes que hoje se concentraram em Paris referiram-se a Espanha como um exemplo a seguir na luta contra a violência machista, lembrando o caso “La Manada”, em que cinco homens violaram uma jovem durante as festividades de San Fermín, em Pamplona, em 2016.
As mulheres espanholas mobilizaram-se nas ruas depois de dois tribunais terem condenado os cinco jovens por abuso sexual e não por violação, o que resultaria numa pena mais grave.
Após a pressão social, a sentença inicial foi alterada pelo Supremo Tribunal espanhol, que aumentou a pena para violação.
Estima-se que o julgamento do caso Pelicot, que começou a 02 de setembro, venha a durar meses.
Comentários