“Queremos ser como os portugueses e alcançar a nossa liberdade. Estamos fartos dos espanhóis a sacar o que é nosso”, disse à Lusa Eulàlia Vilalta antes de se dirigir à mesa onde iria votar uns minutos depois.
Na fila compacta de algumas dezenas de metros que se formava do lado de fora da assembleia de voto eram várias as pessoas que empunhavam os cravos de todas as cores que estavam a ser distribuídos.
Noutro local de votação em Barcelona, várias pessoas também tinham cravos e recordavam a “Revolução dos Cravos” de há mais de 40 anos, em Portugal.
Um deles, Henrique Brunet, não tinha mesmo dúvida de que foi uma das revoluções “mais bonitas” que aconteceu na Península Ibérica.
O voto a favor da independência da Catalunha deverá sair hoje vitorioso na consulta já que os nacionalistas decidiram não participar no referendo ilegalizado pelo Estado espanhol, não querendo, de alguma forma, credibilizar o processo.
A preferência pelo lado separatista não era escondida pela maior parte das pessoas nos locais de votação, que teve, durante a manhã, momentos de tensão com a polícia a tentar impedir que muitos colégios eleitorais votassem.
A votação começou às 9:00 (08:00 de Lisboa) com centenas de pessoas, na sua esmagadora maioria a favor da independência da Catalunha, a formarem filas de forma ordenada em frente das assembleias de voto desde as 05:00 (04:00).
A polícia acabou, na maior parte dos locais, por não aparecer e quando isso aconteceu limitou-se a verificar a situação, sem entrar dentro das assembleias de voto.
“Não vamos usar a violência”, garantiram vários eleitores à agência Lusa, acrescentando que se a polícia tentasse fechar os locais de voto iriam usar “resistência pacífica”.
Em muitas das escolas que serviam como assembleias de voto houve dezenas de pessoas a dormir desde sexta-feira e atividades lúdicas com os estudantes organizadas no sábado para impedir as forças de ordem de selarem os locais.
“Queremos ser independentes de Espanha, que nunca respeitou a nossa língua e cultura e continua a reprimir-nos, como no tempo do Franco”, disse Ricard Coll à Lusa no meio de uma fila à espera da sua vez para votar.
Numa outra fila em frente de outra escola de Gràcia, um bairro de Barcelona, Merce Palau criticava os que são contra a separação por não virem votar e acusava-os de terem “vergonha de dizer que votam não”.
“Não estou de acordo com o referendo, nem com a forma como foi convocado”, disse à Lusa Antoni Perez numa rua de Barcelona, acrescentando que “os separatistas estão a manipular as pessoas” e “irão apresentar a consulta como uma grande vitória, mas foram os únicos a votar”.
Não muito Longe, Ana Concha também não ia votar e via a situação “muito mal”: “As duas partes deviam ter dialogado mais para tentar chegar a um acordo”, afirmou.
Entretanto, o presidente do governo catalão, Carles Puigdemont, criticou hoje o "uso injustificado, irracional e irresponsável da violência por parte do Estado espanhol", que o "envergonhará para sempre", mas "não deterá o desejo dos catalães de poder votar pacífica e democraticamente".
Várias pessoas ficaram feridas após uma ação da polícia antimotim da Guardia Civil quando tentavam entrar numa sala de exposições em Tarragona, enquanto em Barcelona a polícia disparou balas de borracha.
Por seu lado, o representante do Governo espanhol na Catalunha pediu, no final da manhã, às autoridades independentistas que ponham um fim à “farsa” do referendo que a polícia estava a tentar impedir.
Os catalães apoiantes da independência da região estão hoje a tentar votar num referendo suspenso no início do mês pelo Tribunal Constitucional espanhol e as autoridades de Madrid a tentarem impedir a realização da consulta popular, com milhares de agentes da Polícia Nacional e Guardia Civil na rua.
Os Mossos d’Esquadra (polícia catalã) fecharam dezenas de colégios eleitorais em toda a Catalunha, embora em alguns locais se tenham limitado a registar a concentração popular e saído sob aplausos da população.
Já a Polícia Nacional e a Guardía Civil protagonizaram momentos de tensão ao tentar impedir o referendo, tendo mesmo ocupado o pavilhão desportivo da escola em Girona onde deveria votar o líder da ‘Generalitat', Carles Puigdemont, e detido vários manifestantes.
O Tribunal Constitucional espanhol suspendeu no início de setembro, como medida cautelar, todas as leis regionais aprovadas pelo Parlamento e pelo Governo da Catalunha que davam cobertura legal ao referendo de autodeterminação convocado para hoje.
Os partidos separatistas têm uma maioria de deputados no parlamento regional da Catalunha desde setembro de 2015, o que lhes deu a força necessária, em 2016, para declararem que iriam organizar este ano um referendo sobre a independência, mesmo sem o acordo de Madrid.
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