Em entrevista à agência Lusa em vésperas da Convenção Nacional do BE em que vai deixar a liderança bloquista ao fim de uma década, Catarina Martins refere que, apesar da crise política, não parece ser “um cenário plausível” haver eleições antecipadas pouco mais de um ano depois das últimas legislativas.
“Também é verdade que a paralisia do Governo é absolutamente insustentável, e é por isso que eu digo que acho que António Costa vai ter que fazer mudanças grandes. Veremos se as faz. Se as fizer, julgo que a legislatura chegará até ao fim”, defende.
Antecipando que estas alterações profundas, a serem feitas pelo chefe do executivo, não serão “por um caminho de esquerda necessariamente”, mas sim pela “credibilidade do Governo”, a ainda líder do BE deixa um aviso.
“Se não as fizer, enfim, a partir de determinada altura, se a degradação continua, o Presidente da República [Marcelo Rebelo de Sousa] sentirá que terá apoio popular para convocar eleições antecipadas”, alerta.
Para Catarina Martins, neste momento não há condições para Marcelo Rebelo de Sousa dissolver a Assembleia da República, desde logo porque “não há uma vontade popular de eleições” já que as pessoas querem é soluções para os atuais problemas com os quais estão confrontadas.
“Dito isto, o Governo tem também uma enorme dificuldade: não pode agir com o grau de descredibilização que tem”, sublinha, dando como o exemplo o dossiê da TAP, da luta dos professores ou os problemas no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A bloquista deixa claro que “não basta remodelar o Governo”, apesar de enfatizar que “João Galamba é um ministro tóxico”, incapaz de “explicar sequer o que é que se passa no seu gabinete” e que implicou todo o executivo “numa situação absolutamente deplorável”.
“O Governo tem um problema duplo: tem um problema de manter ministros que são tóxicos e de manter ministros sem condições para serem ministros, porque não têm os instrumentos políticos para agirem nas suas áreas”, sintetiza.
Não basta, na análise de Catarina Martins, “mudar os nomes” dos responsáveis pelas pastas, mas sim “uma direção política que se compreenda”.
“Há um momento em que este jogo do Governo ter um discurso à esquerda e uma atuação política à direita, podendo dar jeito em campanha eleitoral, na governação quotidiana torna impossível a ação de qualquer ministro. Ninguém percebe o que é que estão a falar. Ninguém percebe o que é que querem fazer”, critica.
Sobre o discurso muito crítico do executivo feito no último fim de semana pelo antigo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, a bloquista considera que “até se podem justificar palavras muito duras sobre este Governo”.
“Mas diria também que, quando eu ouço Cavaco Silva, não consigo esquecer-me de que foi do seu Conselho de Ministros que saiu a administração do BPN, um dos maiores casos de gangsterismo financeiro do nosso país e, portanto, é-me difícil ouvir Cavaco Silva como sendo capaz de dar lições de grande responsabilidade à governação”, condena.
O país, segundo Catarina Martins, “passou uma borracha sobre o que foram os governos de Cavaco Silva e a sua atuação”. “Eu pessoalmente não passo”, atira.
Para além do “problema da coerência política” do antigo chefe de Estado, há um outro problema para que é a direita ficar “muito contente com um discurso poderoso de Cavaco Silva, acho que percebendo o que os seus protagonistas de hoje são muito frágeis”.
Comentários