Catarina Martins falava à Lusa no início de uma manifestação de professores que hoje decorre em Lisboa e que junta milhares de profissionais.
Justificando o apoio, a responsável fez um “retrato” das escolas, tipificado numa professora de 45 anos, “com um salário que não chega para pagar a gasolina para ir para a escola onde foi contratada, que não consegue pagar a renda, com um bloqueio no acesso aos escalões e que se vê com imenso trabalho burocrático”.
As escolas, acrescentou, têm cada vez menos profissionais face às necessidades, e os alunos não têm apoio, o que faz com que a vida dos professores seja “uma corrida de obstáculos permanente”.
“Estas professoras e professores estão a lutar por um direito ao ensino, fundamental no nosso país”, disse Catarina Martins à Lusa, considerando que é tempo de se deixarem as promessas e de se agir “rapidamente” para que as escolas tenham condições.
A coordenadora do Bloco de Esquerda disse saber que há pais e mães preocupados por alunos não terem aulas devido à greve que decorre, mas acrescentou que se há tantas turmas que não têm professores a muitas disciplinas “é porque a vida nas escolas ficou tão difícil que o país já não consegue contratar os professores de que precisa”.
“E se esta luta agora está a criar alguma instabilidade, o que cria mesmo uma instabilidade permanente é a falta de uma política que proteja a escola pública e quem está aqui a lutar está a lutar por essa escola”, disse.
Questionada sobre a possibilidade de o Governo recorrer a serviços mínimos no âmbito das greves dos professores, Catarina Martins considerou que o direito à greve não deve ser limitado e disse que as greves têm regras, que devem ser respeitadas.
“E se há algum problema pontual, ele não deve ser confundido com a gigantesca maioria dos professores, que estão a fazer a luta como a devem fazer, uma luta democrática”, referiu.
Mais de 20 mil professores estão hoje, segundo a polícia, a manifestar-se em Lisboa, em defesa da escola pública e contra as propostas de alteração aos concursos, numa marcha convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP). Este organismo diz que no protesto participam 100 mil pessoas.
Esta é a segunda manifestação de professores na capital no período de um mês, depois de uma realizada em 17 de dezembro, que juntou mais de 20 mil docentes, segundo as estimativas do sindicato.
A marcha realiza-se num momento de grande contestação estes profissionais, que estão em greve desde 09 de dezembro, numa paralisação convocada pelo STOP que se deverá prolongar, pelo menos, até ao final de janeiro e foi alargada aos trabalhadores não docentes.
Além de reivindicações antigas relacionadas com a carreira docente, condições de trabalho e salariais, os protestos foram motivados por algumas das propostas do Governo para a revisão do modelo de recrutamento e colocação de professores, que está a ser negociada com os sindicatos desde setembro.
Em particular, contestam a possibilidade de incluir outros critérios de seleção, além da graduação profissional, ou de os professores passarem a ser contratados por entidades locais ou pelos próprios diretores. O Ministério da Educação já desmentiu, no entanto, essa informação.
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