Segundo a agência da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o valor corresponde “a uma perda média de 123 mil milhões de dólares por ano”, ou 5% da riqueza produzida pelos agricultores entre 1991 e 2021.
Num relatório divulgado em Roma, a FAO disse que os danos se traduzem numa perda de 147 calorias por pessoa e por dia.
Trata-se do equivalente às necessidades alimentares de cerca de 400 milhões de homens e 500 milhões de mulheres todos os anos, disse a FAO, citada pela agência francesa AFP.
No relatório, intitulado “O impacto das catástrofes na agricultura e na segurança alimentar”, a FAO registou um aumento de cerca de 100 catástrofes por ano na década de 1970 para 400 nos últimos 20 anos.
Os episódios devem-se sobretudo às alterações climáticas, com temperaturas extremas, secas, inundações e tempestades a causarem os maiores danos, mas também a pandemias como a covid-19, a epidemias como a peste suína africana e a conflitos armados.
“A agricultura corre cada vez mais o risco de ser afetada por múltiplos riscos e ameaças, tais como inundações, escassez de água, secas, diminuição do rendimento das culturas e dos recursos haliêuticos, perda de biodiversidade e degradação ambiental”, alertou.
Os danos estão a aumentar, não necessariamente em valor, mas em quantidade.
Todos os anos, perdem-se, em média, 69 milhões de toneladas de cereais, 40 milhões de toneladas de frutas e legumes e 16 milhões de toneladas de carne, produtos lácteos e ovos.
Cerca de 23% das perdas económicas resultantes de catástrofes são sofridas pelo setor agrícola.
Os países mais pobres são os mais afetados, proporcionalmente ao rendimento agrícola.
Embora Ásia registe os maiores prejuízos (45% do total), eles correspondem a 4% do seu Produto Interno Bruto (PIB) agrícola, enquanto no Corno de África, regularmente atingido pela seca, se perde em média 15% das colheitas e do gado.
As catástrofes têm também um impacto relativamente maior nos Estados insulares em desenvolvimento, que perdem em média 7% do PIB agrícola.
As mulheres são também mais afetadas do que os homens, segundo a relatora Zehra Zaidi.
“Isto deve-se aos constrangimentos que enfrentam no acesso a elementos como a informação ou os instrumentos financeiros, todos os recursos de que necessitam para se prepararem para responder ou recuperar de uma catástrofe”, justificou.
A FAO não quantificou o impacto das catástrofes nos peixes ou nas florestas, devido à falta de dados suficientemente sólidos.
A agência especializada considerou que perante o aumento da frequência e da intensidade das pragas que afetam a agricultura, é possível reduzir os riscos através de novas práticas de ações preventivas.
Deu como exemplo a invasão de gafanhotos no Corno de África em 2020 e 2021, cujo alerta permitiu tratar 2,3 milhões de hectares na região e no Iémen, evitando perdas significativas em cereais e leite.