Em declarações à agência Lusa, o porta-voz do movimento informal de cidadãos BASTA, Pedro Triguinho, disse que o "ajuntamento de centenas de cidadãos e de eleitos de todos os quadrantes políticos" junto ao Nicho de Riachos é um "mais um grito de revolta por uma situação que se arrasta há anos".

Referiu que a participação também é reveladora da "indignação" pela aceitação, pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria (TAFL), de uma providência cautelar que evitou o encerramento da fábrica responsabilizada pela poluição naquela zona.

Pedro Triguinho afirmou que as pessoas estão cansadas pelo arrastar de uma situação que se prolonga há quatro anos, com queixas continuadas da poluição, tanto atmosférica, sentida sobretudo na aldeia de Carreiro da Areia, onde se situa a empresa, como hídrica, nas ribeiras do Serradinho e da Boa Água, que desagua no rio Almonda.

"As pessoas de Carreiro da Areia não podem abrir as janelas de casa e são frequentes as queixas de irritações nos olhos e nas vias respiratórias porque o ar é ácido", disse.

Triguinho referiu que o protesto já estava pensado perante a demora da concretização da ordem de encerramento da fábrica que, alegadamente, é a fonte poluidora, decretada em março de 2018, mas foi precipitado pelo conhecimento, há cerca de um mês, de que o TAFL deu provimento à providência cautelar interposta pela empresa para evitar o encerramento.

"Ficámos incrédulos com a decisão da juíza", tendo em conta o historial de incumprimentos e contraordenações de que a empresa tem sido alvo ao longo dos últimos anos, e que levou à ordem de encerramento emitida pelo IAPMEI - Agência para a Competitividade e Inovação, disse.

O protesto de hoje, além da leitura de uma recomendação que vai ser enviada ao Governo, aos partidos políticos com assento parlamentar e aos eleitos de Torres Novas, foi pontuado por palavras de ordem como "Não à poluição", "Queremos respirar, estão-nos a matar", e "Não desistimos, a luta continua", culminando com a deslocação dos manifestantes até junto a um centro comercial da cidade.

Segundo Pedro Triguinho, a moção “Por uma vida com qualidade", lida hoje aos presentes em Torres Novas, "reafirma a nossa vontade e determinação pelo direito a uma vida digna com qualidade e a um ambiente sustentável".

O ambientalista vincou que, tal como em 16 de setembro de 2016, os participantes no protesto reafirmaram hoje, “com a mesma determinação e convicção”, de que a razão está do seu lado.

Na moção, pode ler-se que "a Fabrióleo teve ordem de encerramento por parte das instituições credenciadas para tal, o IAPMEI", e que "esta foi a grande vitória que o povo obteve", tendo reiterado a crítica à posterior decisão judicial.

"Infelizmente, o poder judicial não atendeu ao sofrimento de tanta gente", refere-se na mesma nota, dando conta que a população "assiste hoje a um dilema" e que passa pelo despovoamento das aldeias, ou pelo encerramento da empresa.

"A nossa convicção é que as aldeias e as suas gentes vão ficar e este ajuntamento de pessoas envia daqui este grito de revolta, mas também de esperança: aos poderes políticos e judiciais, às instituições de fiscalização, à opinião publica e à comunicação social", conclui.