Em declarações à agência Lusa, via telefone, Hugo Devesas, do movimento denominado “Protesto contra o novo aterro na freguesia de Covelas”, disse que a manifestação juntou “centenas de populares no centro da cidade” e que houve também um buzinão, considerando as iniciativas “um sucesso”, sobretudo num contexto de pandemia da covid-19.
O presidente da Câmara da Trofa (distrito do Porto), Sérgio Humberto, anunciou em 17 de maio, a troco de uma indemnização de dois milhões de euros, a instalação de um aterro na freguesia de Covelas, apontando-o como uma extensão do equipamento fechado em 2016 na freguesia vizinha de Santa Cristina do Couto, em Santo Tirso.
Contudo, na sexta-feira, véspera da manifestação, o executivo municipal da Trofa assumiu, em comunicado, que, apesar de ter “a convicção de que esta unidade não prejudicaria a qualidade de vida” da população e que “representaria um conjunto de contrapartidas importantes a favor da freguesia”, estará “ao lado da vontade dos covelenses”, dando conta de que “tudo fará para que este aterro não seja uma realidade”.
“Na semana passada [a câmara] dizia ao contrário [que o aterro iria avançar]. É uma pouca vergonha a maneira como este processo está a ser conduzido e negociado pela calada. É um processo opaco e que nunca foi transparente. A população soube na semana passada, através do anúncio do presidente da câmara”, criticou Hugo Devesas.
No comunicado de sexta-feira, a Câmara da Trofa refere ainda que, “independentemente da emissão do parecer prévio não vinculativo” do município, a unidade “poderá avançar, se o Estado central assim o entender, e nesse cenário o aterro poderá ser construído”.
“Por isso, por acreditarmos e defendermos que os covelenses merecem respeito e merecem ser recompensados, tínhamos exigido contrapartidas que seriam canalizadas para benefício direto de todos os habitantes de Covelas, como, por exemplo, a construção da infraestrutura de rede de abastecimento de água, a requalificação de vias, a implementação de ilhas ecológicas/estruturas enterradas, a limpeza de montureiras, a colocação de equipamentos de recolha seletiva de resíduos e ainda o desenvolvimento de ações de sensibilização ambiental, entre outras”, lê-se na nota da autarquia.
A organização do protesto acusa o município de passar responsabilidades.
“Numa semana o município deu uma volta de 180 graus e agora ‘chuta’ para o Ministério do Ambiente. Se a câmara está ao lado da população, que lute também connosco. A população não aceita [o aterro] nem se vende por dois milhões de euros”, sublinhou Hugo Devesas.
O coorganizador do protesto deixou ainda a garantia de que, “seja na escadaria da Assembleia da República” ou noutro sítio, a população “vai lutar contra o aterro até às últimas consequências”.
Em 19 de maio, em declarações à Lusa, o presidente da Câmara da Trofa explicou que o aterro será explorado pela Resinorte, empresa com “uma dívida do PS de 2,8 milhões de euros, depois de, entre 2010 e finais de 2013, nunca ter pagado nada da deposição dos resíduos sólidos urbanos”.
A empresa, referiu o autarca, acordou indemnizar a autarquia em dois milhões de euros “sobre a dívida gerada pela gestão socialista e que estava já reduzida a 1,9 milhões de euros”.
Enfatizando que a instalação do aterro “cumpre uma legislação muito exigente”, Sérgio Humberto revelou nesse dia que o projeto “já foi aprovado pela Agência Portuguesa do Ambiente, pela ERSAR – Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos e pelo Ministério do Ambiente”, ficando a faltar “a aprovação da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e a desafetação da REN – Rede Energética Nacional”.
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