O Relatório Mundial sobre a Droga de 2019, a que a agência Lusa teve acesso, concretizado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês), refere também que apenas uma em cada oito pessoas consegue obter o tratamento de que necessita e que pelo menos 269 milhões de pessoas consumiram drogas em 2018, mais 30% do que em 2009.
A diretora executiva da UNODC, Ghada Waly, escreve no sumário do relatório, divulgado no dia em que se celebra o Dia Internacional Contra o Abuso de Drogas e Tráfico Ilícito, que os adolescentes e jovens adultos estão entre os maiores consumidores.
Citando o secretário-geral da ONU, António Guterres, - “esta é a altura para a ciência e para a solidariedade”, que evocou a importância da confiança nos cientistas e no trabalho conjunto para responder à pandemia de covid-19 - Waly defendeu o mesmo princípio para o combate mundial à droga.
“Para ser eficaz, devem ser elaboradas soluções equilibradas para combater a procura de droga. Isto é mais importante do que sempre foi, à medida que os desafios para combater as drogas ilícitas se tornaram extraordinariamente complexos, agravados pelas consequências da covid-19 e pela crise económica daí decorrente que ameaçam, para pior, o impacto ainda maior na população pobre, marginalizada e vulnerável”, sublinhou Waly.
Os dados estatísticos constantes do relatório indicam que apenas um em cada três consumidores é mulher e que um em cada cinco que recorrem a tratamento é também do sexo feminino.
Os presos, membros de minorias, imigrantes e deslocados também enfrentam barreiras para receber tratamento “devido à discriminação e ao estigma”, enquanto dos 11 milhões de pessoas que injetam drogas, metade está infetada com hepatite C e 1,4 milhões contaminada com HIV.
As apreensões de anfetaminas quadruplicaram entre 2009 e 2018 e, apesar de uma melhoria na fiscalização global, os traficantes e vários cientistas estão a desenvolver novos químicos para as sintetizar, bem como às metanfetaminas e ao ecstasy.
“A produção de heroína e cocaína continua entre os níveis mais altos registados nos últimos anos”, referiu Waly, defendendo que o crescimento do abastecimento global de drogas coloca desafios ao reforço da lei, aos riscos que provoca na saúde e complica os esforços para travar os distúrbios provocados pelos produtos ilícitos.
Waly refere que, ao mesmo tempo, mais de 80% da população mundial, maioritariamente da classe média baixa, está privada do acesso ao controlado mercado de medicamentos para tratar a dor e a outros bens médicos essenciais.
Vários governos, indicou, têm repetidamente apelado ao trabalho conjunto para enfrentar os muitos desafios colocados pela questão da droga como parte do compromisso assumido nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e, mais recentemente, pela Declaração Ministerial de 2019, aprovada pela Comissão sobre Drogas e Narcóticos (CDN).
“Mas as estatísticas indicam que a progressão da assistência [médica e social] para combater a dependência fracassou”, alertou a diretora executiva da UNODC.
Para Waly, as respostas “equilibradas, compreensivas e eficazes” para apoiar os toxicodependentes “dependem do cumprimento do compromisso assumido pelos vários governos”, que terão de providenciar apoio médico e não deixar ninguém para trás.
Nesse sentido, defendeu, devem ser feitas aproximações centradas na saúde, baseadas nos direitos e sensíveis ao género para o consumo de droga e para as doenças relacionadas, de forma a serem obtidos melhores resultados na saúde pública.
“Temos de fazer mais para partilhar estes ensinamentos e apoiar a implementação, maioritariamente nos países em desenvolvimento, incluindo o reforço da cooperação com organizações da sociedade civil e da juventude”, propôs.
Waly recordou que o lema da edição deste ano do relatório, “Better Knowledge For Better Care (“Melhor Conhecimento para Melhor Atendimento”), simboliza a importância da evidência científica no reforço das respostas ao problema mundial da droga.
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