Segundo a organização chinesa de defesa dos direitos humanos Civil Rights and Livelihood Watch, Lu Siwei recebeu hoje uma notificação do Departamento de Justiça de Sichuan, no sudoeste da China.

O documento acusava o advogado de fazer comentários “inapropriados” na Internet, “prejudicando seriamente” a reputação da profissão e criando um “impacto nefasto” na sociedade.

Um outro advogado, Ren Qiuannu, tinha recebido a 31 de Dezembro uma notificação do Departamento de Justiça de Henan, no centro da China, a acusá-lo de violar a lei por aceitar um caso envolvendo “uma organização religiosa maligna”.

As ameaças de retirada da licença de advocacia são “obviamente uma vingança” pelo envolvimento no caso dos 12 ativistas de Hong Kong, defendeu a campanha #save12hkyouths (“salvem os 12 jovens de Hong Kong”).

Num comunicado, o movimento sublinha que Lu Siwei e Ren Qiuannu aceitaram representar os manifestantes a pedido dos familiares, uma nomeação recusada pelas autoridades judiciais de Shenzhen, cidade chinesa adjacente a Hong Kong.

A campanha acusa a China de usar os dois advogados como “um exemplo para ameaçar outros defensores dos direitos humanos” e conseguir que “mais ninguém se atreva a participar em casos sensíveis politicamente”.

Oito dos 12 jovens, entre os quais o luso-chinês Tsz Lun Kok, foram considerados culpados de “travessia ilegal” das águas da China continental e condenados a sete meses de prisão a 30 de Dezembro. Dois dos ativistas foram também considerados culpados de organizar a passagem ilegal da fronteira e condenados penas entre dois e três anos de prisão. Os restantes dois jovens foram devolvidos a Hong Kong, por serem menores de idade.

A campanha #save12hkyouths disse à Lusa que a mãe de Tsz Lun Kok está atualmente em Shenzhen, a cumprir quarentena devido à pandemia da covid-19, para poder visitar o ativista.

Os detidos, a maioria ligados aos protestos antigovernamentais do ano passado, em Hong Kong, tinham iniciado a viagem com destino a Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo, quando a lancha em que seguiam foi intercetada, em 23 de agosto, pela guarda costeira chinesa.

O jovem tinha já sido detido em 18 de novembro de 2019 em Hong Kong, e mais tarde libertado, durante o cerco da polícia à Universidade Politécnica daquele território, sendo acusado de motim, por ter alegadamente participado numa manobra para desviar as atenções das forças de segurança com o objetivo de permitir a fuga de estudantes refugiados no interior.