Os manifestantes vão “mostrar o seu desagrado pelo encerramento do campismo na ilha, nos últimos anos, por deliberação da câmara”, refere uma nota dos promotores da iniciativa enviada à agência Lusa.
Segundo o grupo, o campismo na ilha, opção mais económica e sustentável pelo contacto com o meio ambiente, foi proibido pelo município do distrito de Leiria primeiro devido à pandemia de covid-19, depois pelo controlo da entrada de visitantes na ilha e, nesta época balnear, pela “falta de pareceres de várias entidades”.
Um grupo de cidadãos descontente com o encerramento esteve na reunião pública da câmara municipal de 23 de junho a pedir esclarecimentos sobre a previsão de reabertura, os motivos do encerramento e a posição do município.
Uma petição ‘online’, subscrita até hoje por 1.125 cidadãos, foi entregue a pedir a reabertura da área de campismo.
Os peticionários frisaram a importância do espaço para “fugir da confusão e apenas passar umas boas férias ao ar livre e sem telemóveis” na ilha.
Nessa reunião de junho, o presidente da câmara, Henrique Bertino, chegou a anunciar a reabertura do campismo para julho, depois de uma visita da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
Segundo o autarca, o encerramento prendeu-se, há três anos, com pandemia de covid-19 e questões de insegurança relacionadas com a instabilidade da falésia levantadas pela APA.
Nessa reunião, a autarquia aprovou um conjunto de normas de funcionamento para o campismo, assim como a atualização das taxas de pernoita. Contudo, a atividade não reabriu, motivo pelo qual as novas regras não foram aplicadas.
Contactada pela agência Lusa, fonte oficial do município explicou que a autarquia aguarda o parecer de uma entidade com a autorização e, uma vez que se entrou já no mês de setembro, remeteu decisões para o próximo verão.
“Foi detetado algum grau de instabilidade na arriba, bem como o risco de queda de pequenos blocos que estejam confinantes com a margem do limite superior da crista, pelo que, para serem garantidas as condições de segurança, a APA propôs a inutilização dos socalcos mais próximos da arriba, bem como a recolocação da vedação de limitação de espaço com a respetiva sinalética de aviso”, explica a proposta das novas normas a fixar, a que a agência Lusa teve acesso.
A proposta aponta para uma carga máxima de 33 campistas e indica que a área ocasional para a atividade deve ser limitada ao uso de 14 espaços, nos socalcos mais afastados da arriba.
“Tendo em conta a subida da inflação que tem acontecido nos últimos meses e que, nos últimos 12 anos, não houve qualquer alteração nos preços praticados”, o executivo municipal aprovou ainda uma atualização das taxas de pernoita.
A taxa por cada noite passou de 10,30 para 20,60 euros para duas pessoas, de 14,95 para 29,90 euros para três pessoas e de 19,60 para 39,20 euros para quatro pessoas, na mesma tenda.
Henrique Bertino admitiu que as despesas para manter a ilha “são exorbitantes” e sublinhou a necessidade de criar receita face a essas “exigências financeiras”.
Desde abril de 2022, os visitantes da ilha da Berlenga passam a pagar uma taxa turística de três euros por dia, por se tratar de um espaço natural e haver um limite diário condicionado a 550 visitantes em simultâneo, como ficou estabelecido em portaria.
As regras têm como objetivo minimizar os efeitos do turismo sobre as espécies e habitats naturais sensíveis e a pequena dimensão terrestre do arquipélago.
O acesso condicionado de turistas decorreu também de estudos científicos e já estava previsto no regulamento do Plano de Ordenamento da Reserva, em vigor desde 2008, mas nunca chegou a ser fixado até meados de 2019.
O arquipélago das Berlengas (no qual a ilha da Berlenga Grande é a única acessível), foi classificado em 2011 como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), tem estatuto de reserva natural desde 1981, é Sítio da Rede Natura 2000 desde 1997 e foi classificado como Zona de Proteção Especial para as Aves Selvagens em 1999.
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