A distinção, que na prática é uma bolsa de investigação, foi atribuída a Maria Inês de Almeida (i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde), Isabel Veiga (Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde – Universidade do Minho), Ana Rita Marques (Instituto Gulbenkian de Ciência) e Patrícia Baptista (IN+ – Centro de Estudos em Inovação, Tecnologia e Políticas de Desenvolvimento).
Maria Inês de Almeida está a trabalhar sobre a regeneração dos ossos e Isabel Veiga sobre a resistência do parasita da malária a fármacos, enquanto Ana Rita Marques está a estudar a estabilidade dos centríolos (estruturas celulares mais finas do que um fio de cabelo) e Patrícia Baptista a desenvolver uma ferramenta de avaliação de rotas numa cidade, consoante o tipo de utilizador e modo de transporte.
Cada uma das cientistas vai receber 15 mil euros. As Medalhas de Honra das Mulheres da Ciência, que vão na 13.ª edição, são promovidas pela L’Oréal Portugal, Fundação para a Ciência e Tecnologia e Comissão Nacional da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
As quatro premiadas foram selecionadas entre 80 candidatas, cujos projetos de investigação foram avaliados por um júri presidido pelo investigador e deputado Alexandre Quintanilha.
Em declarações à Lusa, a cientista Maria Inês de Almeida disse que vai testar uma nova terapia para a regeneração dos ossos, em alternativa às próteses, manipulando as moléculas de ácido ribonucleico (ARN) que não codificam proteínas.
A parte do ARN que não sintetiza as proteínas, em particular os microARN, consegue regular o funcionamento das células, a sua “proliferação, diferenciação”, pelo que a sua manipulação pode regenerar o tecido ósseo em caso de dano, sustentou a investigadora do i3S, no Porto.
“Quando temos um defeito ósseo, há uma reação inflamatória, há uma proliferação e diferenciação das células do osso”, assinalou.
No seu trabalho, Maria Inês de Almeida vai extrair microARN de culturas de células ósseas humanas e administrá-los, em diferentes níveis, a ratinhos, para induzir e acelerar a regeneração do osso com defeito.
Isabel Veiga, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde, da Universidade do Minho, quer “perceber os mecanismos que o parasita da malária desenvolve” para que o medicamento artemisinina, atualmente usado no tratamento da doença, nem sempre surta efeito.
Para isso, a cientista vai modificar geneticamente o parasita para analisar, ao pormenor, as proteínas que existem nas células com capacidade para transportar os fármacos, as designadas ‘proteínas transportadoras’.
Consoante as variações genéticas, estas proteínas são mais ou menos eficientes no transporte dos medicamentos para as células, esclareceu.
Os centríolos, que estão na base do estudo de Ana Rita Marques, do Instituto Gulbenkian de Ciência, “são importantes para que as células se consigam dividir corretamente”, e, por conseguinte, são essenciais para o estudo da regeneração de tecidos e do cancro, de acordo com a investigadora.
Em concreto, a cientista vai analisar, socorrendo-se da mosca da fruta como modelo, os mecanismos de funcionamento de uma proteína, a polo, que regula o revestimento protetor dos centríolos.
Para desenvolver uma ferramenta de avaliação do trajeto mais adequado numa cidade, a investigadora Patrícia Baptista propõe-se construir uma base de dados com as variáveis utilizador e modo de transporte, partindo do caso de estudo de Lisboa.
A base de dados permitirá, por exemplo, comparar trajetos alternativos em função do tempo de viagem, do esforço físico da pessoa, da inalação de poluentes, do consumo de energia e da emissão de gases das viaturas ou do declive do terreno, explicou a cientista do IN+ – Centro de Estudos em Inovação, Tecnologia e Políticas de Desenvolvimento, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa.
A ferramenta, que poderá ser uma aplicação para telemóvel, possibilitará ao utilizador, em especial com dificuldades de mobilidade, “fazer escolhas mais informadas no planeamento das suas deslocações, conhecendo previamente a rota mais adequada ao seu objetivo”, esclareceu à Lusa.
As Medalhas de Honra das Mulheres da Ciência destinam-se a doutoradas, com menos de 36 anos, que realizam investigação em Portugal nas áreas da saúde e do ambiente.
Desde que foi lançada em 2004, a iniciativa apoiou 41 investigadoras.
A distinção é entregue hoje às quatro premiadas, numa cerimónia onde é esperada a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Comentários