“Os impactos na saúde e as mortes por calor extremo estão a aumentar e espera-se que estes efeitos cresçam à medida que as temperaturas globais continuem a aumentar”, afirma um comunicado da revista científica Lancet sobre os estudos, realizados por investigadores das universidades de Washington, Estados Unidos, e de Sidney, Austrália.
Os investigadores notam que mesmo com as estratégias para abrandar as alterações climáticas as temperaturas continuarão a aumentar, pelo que são necessárias mudanças ambientalmente sustentáveis, seja nos comportamentos individuais seja na adaptação dos espaços humanos para fazer face ao calor.
A Lancet, especializada em ciências médicas, publica dois documentos sobre calor e saúde, nos quais, alinhados com o Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa, os autores apelam para que o aquecimento global seja limitado a 1,5 graus celsius (ºC) em relação à época pré-industrial, para “evitar uma mortalidade substancial relacionada com o calor, no futuro”.
Publicados a poucos meses da conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas (COP26), marcada para início de novembro em Glasgow, os estudos concluem que medidas eficazes de arrefecimento - como o aumento de espaços verdes nas cidades, proteção das paredes dos edifícios ou uso generalizado de ventiladores, ou outras técnicas de arrefecimento individual - podem proteger dos piores impactos do calor na saúde.
"São necessárias duas abordagens estratégicas para combater o calor extremo. Uma é a mitigação das alterações climáticas para reduzir as emissões de carbono e impedir um maior aquecimento do planeta. A outra é identificar medidas atempadas e eficazes de prevenção e resposta, particularmente para cenários de baixos recursos. Com mais de metade da população global projetada para ser exposta a semanas de calor perigoso todos os anos, até ao final deste século, precisamos de encontrar formas de arrefecer as pessoas de forma eficaz e sustentável", diz Kristie Ebi, professora da Universidade de Washington e uma das autoras dos documentos.
A investigadora, que tem estudado o impacto do aquecimento global na saúde humana, alerta ainda que a incapacidade de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa levará a um “futuro muito diferente”, com mudanças drásticas nas atividades diárias (como trabalhar ou fazer exercícios) durante o verão, devido ao risco de exposição ao “calor insuportável”, especialmente em regiões tropicais.
Um estudo sobre doenças também publicado na Lancet estima que em 2019 morreram mais de 356.000 pessoas por motivos relacionados com o calor extremo, um valor que deve aumentar à medida que as temperaturas sobem.
Estima-se também que as temperaturas baixas levam a um aumento de mortes e doenças, com os investigadores a sugerirem, embora notando a falta de mais dados, que também em 2019 houve mais de 1,3 milhões de mortes relacionadas com o frio, um aumento de 31% face a 1990. No entanto, no mesmo período, o aumento de mortes relacionadas com o calor foi de 74%.
O calor extremo pode alterar a capacidade do corpo de regular a temperatura interna, pode induzir eventos cardiorrespiratórios, pode ter efeitos negativos na gravidez e parto e nas pessoas idosas e outras pessoas mais vulneráveis e reduz a produtividade dos trabalhadores, especialmente os mais de mil milhões de pessoas no mundo que estão regularmente sujeitas a altas temperaturas.
"Dias extremamente quentes ou ondas de calor que foram vividos aproximadamente a cada 20 anos estão agora a ser vistos com mais frequência e poderão mesmo ocorrer todos os anos até ao final deste século, se as atuais emissões de gases com efeito de estufa continuarem sem diminuir. Estas temperaturas crescentes combinadas com uma população maior e mais idosa, significam que ainda mais pessoas estarão em risco de sofrer os efeitos do calor na saúde", diz Kristie Ebi.
Os autores dos estudos destacam ações que podem ser importantes durante vagas de calor extremo, que vão desde o uso de ventiladores, o uso de spray de água ou uma esponja, ou mesmo vestir roupas molhadas ou colocar os pés em água fria. Além de adaptar edifícios e cidades (com mais lagos e espaços verdes) para o calor.
Ollie Jay, da Universidade de Sidney, salienta que estas recomendações se baseiam em provas científicas e são centrais para evitar mortes.
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