“É uma peça única no mundo. Guindastes deste tamanho são raríssimos e os que existem são de épocas posteriores ao Titan, ou seja, já não são movidos a vapor mas, nomeadamente, a energia elétrica. Por isso, temos aqui um património industrial único no nosso país”, sublinhou hoje o historiador Joel Cleto.

Em 2012, já em elevado estado de degradação, este “colossal” guindaste de ferro, único no mundo por ser movido a vapor, sofreu um acidente e tombou, mas a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) guardou o maior número de componentes que permitiu agora recuperar a estrutura, num investimento de dois milhões de euros.

Assim, o Titan, no lado sul do Porto de Leixões, ‘renasce’ com muitas das suas peças originais, sobretudo os componentes mecânicos, e torna-se agora possível a sua visita ao longo dos quase 69 metros de comprimento e 17 metros de altura.

“Este Titan tem partes novas reconstruídas (…) mas, felizmente, praticamente todos os elementos mecânicos foram resgatados e estão aqui de novo, as rodas dentadas, os veios, o equipamento da máquina a vapor com as suas caldeiras e até os volantes as manivela da cabine do manobrista. Tudo isso são peças originais”, destacou Joel Cleto.

O historiador, que promoveu na manhã de hoje uma visita guiada para a comunicação social, mostrou e contextualizou os vários locais visitáveis do Titan, como a casa do carvão, a sala da máquina a vapor, a cabine do maquinista e a lança que permitia colocar os blocos de gratino a dezenas de metros de distância.

Toda a visita e pontos de interesse contam com diversas placas informativas, onde estão presentes também 'QR codes’ que dão acesso a mais textos informativos, imagens antigas e recentes ou outro material interativo.

A lança do Titan é visitável em todo o seu comprimento e no extremo é possível contemplar a vista que abrange as cidades do Porto e Matosinhos, as suas praias, o oceano Atlântico ou o Porto de Leixões, onde se pode assistir aos trabalhos de carga e descarga de mercadorias, mas também ao embarque e desembarque de passageiros no terminal.

Mas, antes de chegar ao topo, já Joel Cleto tinha explicado a função dos dois guindastes instalados pela empresa francesa responsável pela construção do Porto, a Dauderni & Duparchi, um no lado sul e outro no lado norte, que tiveram como missão erguer os molhes que deram forma ao Porto de Leixões, edificado entre 1885 e 1895.

O “enorme desafio da engenharia portuguesa do século XIX” passava por elevar os pesadíssimos blocos graníticos de 50 toneladas, transportá-los e depositá-los.

Para isso, estes guindastes de ferro rodavam sobre si próprios e avançavam sobre carris. A lança comprida permitia também depositar os blocos a dezenas de metros de distância “sobre o fundo do mar ou sobre os rochedos que deram o nome ao porto, os rochedos Leixões, aproveitados para edificar os molhes”.

Toda esta estrutura de 420 toneladas era movida por uma máquina de vapor, alimentada a carvão, a maioria importado de Inglaterra, pelo facto de o carvão português não ter a mesma força, acrescentou Joel Cleto.

De regresso a 2021, o historiador apontou que o Titan é agora “uma verdadeira relíquia do período industrial” o que lhe confere “um enorme potencial pedagógico” mas também turístico.

“A partir de hoje, torna-se incontornável para os professores que querem abordar as questões da energia, para explicar como é que funcionava a energia a vapor, ou para os professores de história, que querem falar sobre a importância da época industrial”, salientou.

Joel Cleto lembrou ainda que esta é uma peça “fundamental na imagem portuária”, muito ligada “à memória e identidade da região”, e que pode ter “uma importante valência turística”, a poucos metros de uma das principais portas de entrada de turistas no país, o terminal de cruzeiros.

Até final de outubro, as visitas ao Titan serão gratuitas e decorrem às sextas-feiras, sábados e domingos. Até final do ano as visitas passarão a ser diárias e haverá um bilhete único ou combinado, para a visita também ao terminal de cruzeiros.