Bialiatsky e os seus colegas de trabalho Valentin Stefanovich e Vladimir Labkovich, detidos desde julho de 2021, compareceram em tribunal, na cela prisional reservada aos arguidos, segundo imagens da agência noticiosa russa RIA Novosti.

Inicialmente detidos por evasão fiscal, são agora acusados de levar grandes quantidades de dinheiro para a Bielorrússia e de “financiar ações coletivas que minam seriamente a ordem pública”, indicou o Centro Viasna em novembro, acrescentando que enfrentam, se condenados, penas de entre sete e 12 anos de prisão.

Na sexta-feira, os três arguidos declararam-se inocentes.

Bialiatski, que fundou o Centro Viasna (“Primavera”) em 1996, ganhou o Prémio Nobel da Paz juntamente com duas outras organizações de direitos humanos, a Memorial (Rússia) e o Centro para as Liberdades Civis (Ucrânia).

O laureado bielorrusso e os seus dois colegas foram presos após os protestos maciços contra o regime em 2020, na sequência da vitória eleitoral presidencial unilateralmente declarada de Alexander Lukashenko, que governa a Bielorrússia desde 1994.

Um quarto arguido, Dmitri Soloviev, está também a ser julgado, mas à revelia, depois de ter fugido para a Polónia.

“Este é um julgamento fictício, não confio neste julgamento e no que nele irá acontecer”, disse Soloviev, citado pela agência de notícias francesa AFP.

Soloviev descreveu as acusações como “absurdas” e o processo legal como “teatro”, acrescentando que ”a lei não existe na Bielorrússia e o processo é inteiramente controlado por um governo de mafiosos”.

O movimento de 2020 reuniu dezenas de milhares de pessoas nas ruas de Minsk e outras cidades durante semanas antes de ser gradualmente esmagado por detenções em massa, exílio forçado e prisão de opositores, jornalistas e líderes de ONG.

O Ocidente adotou vários pacotes de sanções contra a Bielorrússia que, por outro lado, usufrui do apoio inabalável de Moscovo.

A Bielorrússia concordou em servir de base de retaguarda para as tropas russas na sua ofensiva contra a Ucrânia, iniciada a 24 de fevereiro de 2022, mas o exército bielorusso não participou, até à data, nos combates em território ucraniano.

O julgamento do fundador do Centro Viasna será seguido do dos jornalistas independentes e de Svetlana Tikhanovskaya, a líder da oposição bielorrussa que vive no exílio.

Está previsto para a próxima segunda-feira o início do julgamento de vários jornalistas do site Tut.by, principal meio de comunicação independente da Bielorrússia, que enfrentam uma série de acusações, entre as quais evasão fiscal e incitação ao ódio. Os meios de comunicação foram rotulados como “extremistas” em 2021.

No mesmo dia, o tribunal de Grodno, no oeste da Bielorrússia, ouvirá o caso do jornalista e ativista bielorrusso-polaco Andrzej Poczobut, de 49 anos, correspondente em Minsk do jornal polaco Gazeta Wyborcza que foi detido em março de 2021.

De acordo com o Centro Viasna, Poczobut é acusado de incitar ao ódio e apelar para “ações destinadas a minar a segurança nacional da Bielorrússia”, podendo ser condenado a uma pena de 12 anos de prisão.

A Bielorrússia tinha 1.448 presos políticos a 31 de dezembro, segundo a mesma fonte.