Na Faculdade de Economia da Nova, estiveram Sebastião Bugalho (AD), Marta Temido (PS), Tânger Corrêa (Chega), Cotrim de Figueiredo (IL), Catarina Martins (BE), João Oliveira (CDU), Francisco Paupério (Livre) e Pedro Fidalgo Marques (PAN).

Quem ganhou?

É quase injusto falar-se em vencedores de um debate que pela sua definição nunca o chegará a ser. Numa noite em que os temas se focaram na Europa, e onde Carlos Daniel tentou que os candidatos se vissem livres de gorduras nas suas intervenções, pedindo várias vezes que fossem "concisos", foi Catarina Martins e Cotrim de Figueiredo que conseguiram tirar o melhor do formato e usá-lo a seu favor.

Ambos raramente se demoraram em comentários paralelos ou discussões entre concorrentes, curioso que das poucas vezes em que aconteceu foi um com o outro e em causa estavam as suas posições perante casos de extremismo das suas famílias políticas. Tirando raras exceções, sempre que tiveram que responder a alguém, ou corrigir um facto, aproveitaram o momento que lhes era destinado para responder, incluindo-o de forma fluida no seu discurso.

Mas foi no momento em que se discutiu migrações que ficou definido que os dois haveriam de vencer o debate. Bugalho e Temido focaram-se numa discussão sobre a política do Ruanda trocando acusações numa cacofonia à margem do debate, da qual restam dúvidas se algum deles saiu vitorioso no que aos votos e ao esclarecimento do eleitorado diz respeito.

Tânger Corrêa optou pelo medo, pelas extrapolações e pelo populismo. João Oliveira pegou no discurso para responder acusando-o de racismo e xenofobia.

Catarina Martins e Cotrim de Figueiredo assistem de camarote e quando chega a vez de Cotrim falar muito calmamente diz apenas que não foram apresentadas soluções e que mesmo os problemas foram mal diagnosticados. Depois de um momento muito confuso, é do silêncio que surge a voz de Cotrim que num só monólogo sem atropelos, nem ataques, tem tempo de mais do que explanar as suas ideias, mostrar que tem um caminho traçado. Enquanto prova, sem possibilidade de ser contrariado, que até ali foi o único a fazê-lo.

Noutro tom para destoar do de Cotrim, Catarina Martins fala ao seu eleitorado. Não se demora a debater com o liberal embora mostre que não concorda. Conhecendo o seu público traz para o discurso dos migrantes, os "vistos gold", os "baixos salários" e chega a lembrar o número de jovens que saiu do país no último ano e o número de migrantes que entrou. Termina equilibrando de um lado o ataque ao capital e, do outro, o apoio aos desfavorecidos: “Também acho mal que permitíssemos estufas, em Odemira alarguem, área da estufa em parque natural onde não pode haver habitação e depois os imigrantes dormem em contentores”

Um e outro distinguiram-se dos que falaram antes de si, e roubaram o momento a quem viria depois.

O que querem para a Europa?

Novas regras orçamentais

Marta Temido: "Esta construção representa um avanço. Estas novas regras conferem mais flexibilidade. São mais amigas do investimento." "Antes o que tinhamos era uma marcha forçada, e agora introduziu-se o elemento da negociação." "Mais do que discutir estas regras, devemos discutir o que achamos das políticas económicas para a Europa. Nomeadamente do papel do BCE"

Sebastião Bugalho: "As novas regras da governança europeia significam que conseguimos aprender com as crises do tempo da Troika. Da divida soberana. Deixaram de tratar todos os estados por igual. Garantem a todos os Estados autonomia." "Os Governos hoje em dia estão em contacto permanente com as instituições europeias." "Respondendo à provocação de Marta Temido, é verdade que o PPE teve as posições que teve. Mas os eurodeputados portugueses votaram contra o aumento das taxas de juro."

João Oliveira: "Há muito menos flexibilidade. Os mecanismos de controlo e ingerencia nos países mantêm-se por inteiro." "Ponde em causa a contratualização de funcionários públicos e a gestão de carreiras." "O investimento na habitação não deixa de ficar sujeito ao condicionamento que a CE achar".

Tânger Corrêa: "Uma coisa são os princípios orçamentais, outra coisa é a execução orçamental". "A execução orçamental não vai poder ser tão equitativa quanto devia ser" "Estamos a criar uma Europa a duas velocidades que é um fantasma que nos persegue há muito tempo" "Esta execução orçamental vai permitir a política da mão estendida".

Catarina Martins: "Cada vez que a UE teve uma crise, conseguiu ultrapassá-la suspendendo as regras. Isto devia dizer-nos alguma coisa" "Se tivessemos regras boas não tínhamos que viver sempre em excepção".

Cotrim de Figueiredo: "Não há país ou grupo de país que possa viver sem regras orçamentais" “Estas regras são mais flexíveis. Para os governos ou para a Comissão Europeia? Ainda não sabemos” "É o balanço permanente entre os ganhos e as despesas que dá a quem empresta confiança." "Não é verdade que seja a primeira vez que a comissão europeia tenta influenciar a política económica dos países, basta ver o PRR".

Francisco Paupério: "Se cumprirmos com estas regras orçamentais a maioria dos países não vai cumprir as metas climáticas". "Isto aumenta as desigualdades entre o eixo sul e o eixo norte". "Tem que haver regras orçamentais." "A dívida é definida de forma quase arbitrária".

Pedro Fidalgo Marques: "Temos que deixar de sair deste binómio do deficit da dívida. Precisamos de passar para uma óptica de investimento."

João Oliveira: "Países como Portugal têm nestas regras mais condicionamentos"

Marta Temido: "Euro exige regras. As regras estavam suspensas por causa da pandemia. Ou voltavam as regras antigas, ou havia novas regras. O que fizeram os socialistas europeus?

Tânger Corrêa: "Vê-se que o PS e o PSD da Europa estão juntos no que é essencial".

Cotrim de Figueiredo: "Exigir o fim da independência do BCE

Pedro Fidalgo Marques: "Temos um bloco central"

Possível viragem do Parlamento à direita radical

Sebastião Bugalho: "A AD tem uma identidade própria dentro do PPE. Tanto nas migrações, como nas políticas do BCE, como na relação com outros partidos. São as nossas linhas vermelhas". "As nossas linhas vermelhas do Estado de Direito serão mantidas na campanha e na comissão europeia". “As linhas vermelhas do Estado de direito e do europeísmo e apoio à Ucrânia serão mantidas”

Marta Temido: "“Não há extrema-direita fofinha e uma palatável. Von der Leyen parece querer branquear”

Tânger Corrêa: "Acho divertido estarem sempre a tentar encontrar fissuras entre mim e André Ventura porque isso não existe." "Isto é o sexo dos anjos, a AFD saiu do ID" “Marine Le Pen admite levar a Meloni para um novo grupo que nem são os conservadores nem o ID” "O Chega está no ID, quando chegarmos a 9 de junho vamos equacionar a solução do futuro"

Catarina Martins: "Quando chega a ter a lugares já não há nenhumas linhas vermelhas". “O PPE apoia uma candidata que está a negociar com a extrema-direita a sua permanência na Comissão Europeia”. “No PPE não constam os direitos das mulheres ou direitos humanos”. “Sobre os liberais, há um governo de extrema-direita na Holanda, um governo que foi saudado pelo Kremlin, que só é governo porque os liberais apoiaram” “O antigo líder dos liberais que abriu caminho a esta solução é agora apontado como futuro secretário-geral da NATO”

João Cotrim de Figueiredo: "Fui o primeiro a criticar isso". “Esqueceu-se de referir a posição do partido liberal europeu sobre o Partido Popular para a Liberdade e Democracia: foi não só condenar, como abrir um processo de expulsão”. "Ao contrário do BE que nunca foi capaz de criticar o Syriza quando se coligou com Gregos Independentes, que eram xenófobos e nacionalistas". “Se Ursula Von der Leyen escolher uma aliança com os Conservadores, não contará com o apoio dos liberais europeus”.

Francisco Paupério: "Nós sabemos que a esta deriva von der Leyen não começou agora. Começou com a Lei do Restauro da Natureza”

Pedro Fidalgo Marques: "O que se tem assistido neste final de mandato foram retrocessos". “Se Von der Leyen precisar de partidos extremistas que querem matar direitos, deputados portugueses vão votar a favor ou contra?”

Intervalo

Ataques ucranianos a território russo

Cotrim de Figueiredo: "Isso já aconteceu. Muitos desses ataques são uma questão de estratégia militar para o qual não estou qualificado. São de natureza defensiva e não ofensiva. Por isso não vejo porque é que há-de estar fora do cardápio das hipóteses" "Eu receio sempre a escalada do conflito, mas receio ainda mais se o conflito for resolvido do lado russo" "“A história está cheia de casos em que se tentou apaziguar um tirano e não deu bom resultado. Se Putin não perder na Ucrânia não fica por ali"

João Oliveira: "Mais armas para a Ucrânia não é ajudar a Ucrânia. É fazer com que os ucranianos sejam carne para canhão" "Um acordo de paz não é um acordo de rendição, nem um acordo de derrota" "E quando forem os nossos filhos e netos a ir para esta guerra?" "Estamos a falar do envolvimento de potências nucleares”. “A AD está disponível para parar a guerra ou vai começar a insistir?"

Tânger Corrêa: "Já aconteceu. Já atacaram posições estratégicas como infraestruturas energetics. Resta saber se agora a Ucrânia tem condições para o fazer. Nós faremos a paz que Ucrânia quiser. Mas tem que haver força, uma Ucrânia em estado de fraqueza não tem capacidade de negociar a paz" "O que ninguém está a dizer é que nós vamos participar numa cimeira para a paz". "Era melhor ser com a Rússia, mas ainda não estamos numa one-one negociation. As negociações começam com pivots que falam com as partes, só numa segunda fase as partes falam diretamente."

Sebastião Bugalho: "Penso que todos os países que são a favor da Ucrânia e da vitória da Ucrânia põem linhas vermelhas nos ataques a civis na Rússia". "Uma incursão no território russo deve ser apenas meramente estratégica, estrutural do ponto de vista da energia ou militar" "Parece-me que hoje é um dia feliz, a democracia portuguesa no seu 50º receber um Presidente de um país pelo Primeiro-Ministro e Presidente da República. Hoje é um dia de festa da democracia portuguesa, está ao lado da Europa e da paz"

Catarina Martins: "A Ucrânia tem o direito de defender-se e as tropas russas têm que sair do território ucraniano". "Não deve haver ligeireza. Nada me choca mais do que os generais de sofá que tão facilmente querem mandar os filhos dos outros para a guerra"

Pedro Fidalgo Marques: "O PAN tem estado do lado da Ucrânia". “Já que falamos em aumentar indústria da guerra, sugerimos que haja contribuição extraordinária nos lucros excessivos".

Francisco Paupério: "Há sempre risco de uma escalada de conflito. Mas temos que ser pragmáticos: a Ucrânia foi invadida". "Todas as armas enviadas para defesa da Ucrânia têm de ser escrutinadas por nós. Não podem  utilizá-las em civis e têm de seguir o direito internacional".

Migrantes

Francisco Paupério: "Este pacto piorou os direitos dos migrantes." "Quando temos um Pacto que permite deter crianças, era preferível não ter pacto. Os Direitos Humanos são invioláveis." "Quando fechamos fronteiras não acabamos com a imigração, acabamos com a imigração legal"

Pedro Fidalgo Marques: "O discurso de ódio, o discurso de "Se um de nós estivesse em situações de morte gostava de que a UE o estivesse a denunciar e a mandar para onde pode morrer?"

Marta Temido: "Este pacto não é o pacto que assinaríamos"

Sebastião Bugalho: "Se somos críticos de um pacto temos que o melhorar".

Começa um debate ente Bugalho e Temido. Bugalho acusa Temido de inventar coisas em que a AD não acredita como ser a favor da política do Ruanda. “Colou à nossa candidatura dizendo que eram a favor da política Ruanda. Nós somos os dois contra a política do Ruanda. O PSD e o CDS foram vocalmente contra e quem é autor dessa política é o governo socialista da Dinamarca e quem tem muros é o governo socialista espanhol”. Neste momento Marta Temido interrompe para questionar, “se é verdade ou mentira que o programa da sua família política defende muros financiados com fundos europeus e a colocação de pessoas noutros países”. Bugalha reitera que nada daquilo está na sua candidatura

Tânger Corrêa:  "Pacto das migrações é uma grande armadilha. Obriga países a receberem imigrantes". "A pobreza mais cedo ou mais tarde gera violência. É o rastilho". "Convido todos a irem a Odemira falar com as pessoas, que têm medo, que vivem aterradas”. Carlos Daniel questiona se está a estabelecer uma ligação entre imigração e insegurança: “Aqueles, completamente.”

João Oliveira: "Quem é que quer viver no país que o Chega quer construir? Um país cheio de ódio onde as pessoas vivem desconfiadas umas das outras”

Cotrim Figueiredo: "Tenho defendido que as regras que já existem sejam aplicadas". "As regras que já existem têm de ser aplicadas: a prova a de meios de subsistência não está a ser verificada; e há informações  que carecem de informação". "A dignidade das pessoas tem de se defender. É inadmíssivel que se ache isto um problema menor. O esforço europeu é necessário. Este Pacto para as Migrações é muito melhor do que o que existia. Não é perfeito, mas é muito melhor. Discutam aquilo que é preciso fazer".

Catarina Martins: "PS, PSD e Liberais  lamentam, mas votaram favoravelmente o pacto das migrações. A UE não pode pagar a países terceiros, mas tem que investir em políticas de integração" "não há portas escancaradas. As únicas portas escancaradas que existem são para os Vistos Gold" “A UE não pode gastar o que gasta a pagar a países terceitos para fazer despejos no deserto, pelo contrário, tem que fazer políticas de integração. É aqui que precisamos de investir”

Taxar as grandes tecnológicas

Sebastião Bugalho: "Somos contra novos impostos em cidadãos europeus". “A Europa vai precisar de mais dinheiro” “É possível financiar e orçamentar a UE para ela responder aos seus desafios, mas não sem cumprir a união digital”.  "Sem crescimento e inovação, isso não é possível. Só Europa que cresça consegue responder a desafios do futuro".

Marta Temido: "Não estamos disponíveis para que o investimento em defesa seja feito em áreas que consideramos essenciais.

Cotrim de Figueiredo: “Sem crescimento económico é um jogo em que alguém se anula. Temos que pôr de facto a Europa a crescer”. “Precisamos milhões de pessoas a tentar soluções. A energia dinâmica que a UE perdeu nos últimos 15 anos, o PIB hoje da Europa é muito menor do que os EUA, não vamos conseguir reter pessoas qualificadas para responder a desafios da Europa”

João Oliveira: "Agora sabemos que as multinacionais podem pagar taxinha de 15% com Cotrim de Figueiredo”. “Com a CDU não, devem ter taxas de IRC que fiquem acima das papelarias"

Tânger Corrêa: "Tem se combater a corrupção para que Portugal possa evoluir"

Catarina Martins: “Há uma enorme pressão da direita e extrema direita, onde o pivot é o governo alemão que está a dizer esqueçam a transição justa e transição climática” "Porque é que a Europa há de estar a olhar para o Google americano e com medo do TikTok chinês e não ter ela própria uma plataforma?"

Francisco Paupério: “Não podemos deixar que gigantes tecnologicas paguem taxas quase nulas e tenham acesso ao mercado único”. “Tem de haver harmonização fiscal”

Pedro Fidalgo Marques:

Deve Portugal reconhecer o Estado da Palestina?

Sebastião Bugalho: Sim. "O mais depressa possível dentro do quadro mais multilateral possível

Marta Temido: Sim. "Sozinhos nao"

Tânger Corrêa: "Neste momento é completamente errado". “É errado reconhecer a Palestina não se sabe quem governa, não tem continuidade territorial”

João Oliveira: Sim. "Portugal não estaria sozinho se o fizesse amanhã".

Cotrim de Figueiredo: Sim. "Com duas condições: ser centrado na Autoridade Palestiniana e que o Hamas não seja parte desse entendimento”

Catarina Martins: Sim. "Portugal arrisca-se a ficar isolado por não reconhecer." “É de enorme cinismo dizer que defendemos a solução dos dois estados e só reconhecemos um deles”

Pedro Fidalgo Marques: Sim. É preciso acabar com o genocídio

Francisco Paupério: Sim. "É o momento certo". “Desde a fundação que o Livre, em todas as geringonças, definiu como condição essencial o reconhecimento da Palestina.”