Segundo o comunicado divulgado, a CEP "refletiu sobre a proteção de menores e adultos vulneráveis nos âmbitos eclesiais e na sociedade no seu todo. A Igreja continua a enfrentar esta questão com seriedade, quer quanto ao apoio e acolhimento das vítimas, quer quanto à prevenção e formação", pode ler-se.
Assim, "reconhecendo o trabalho das comissões diocesanas, constituídas especialmente por leigos qualificados em várias áreas como o Direito, a Psiquiatria e a Psicologia, a Assembleia decidiu criar uma comissão nacional para reforçar e alargar o atendimento dos casos e o respetivo acompanhamento a nível civil e canónico e fazer o estudo em ordem ao apuramento histórico desta grave questão. Nesse sentido, é constituído um ponto de escuta permanente a nível nacional".
"A Assembleia manifestou ainda um voto de confiança à generalidade do clero português que, com toda a disponibilidade e dedicação, continua a servir a Igreja no seu ministério pastoral", é ainda referido.
"Queremos que esta comissão questione quer a Igreja, quer a sociedade, com os verdadeiros temas: a clareza, a verdade, ir ao encontro dos dramas (...) e dar contas para que se tenha a dimensão clara deste situação", acrescentou em conferência de imprensa D. José Ornelas, bispo de Setúbal e presidente da CEP.
Para o bispo, esta comissão vai permitir uma "noção mais articulada e compreensiva destes fenómenos, quer agora, quer no passado", passando por uma "busca intransigente de clareza para esta questão".
D. José Ornelas frisou ainda que a Igreja não tem "medo" e que a comissão nacional agora criada, a par com as várias comissões diocesanas já existentes, pretende chegar "ao fundo das questões" no tema dos abusos sexuais na Igreja Católica, tendo "real independência" para investigar.
Na segunda-feira, mais de duas centenas de católicos enviaram uma carta à CEP, defendendo que “não existe alternativa” e este órgão deveria "tomar a iniciativa de organizar uma investigação independente sobre os crimes de abuso sexual na Igreja".
O documento, assinado por figuras como a escritora Alice Vieira, o deputado José Manuel Pureza, o jornalista Jorge Wemans ou o ex-presidente da Cáritas, Eugénio Fonseca, é perentório: “Se queremos manter um diálogo com a sociedade a que pertencemos e que servimos, não existe alternativa!”.
O tema começou a ser mais explorado depois de ser conhecido um relatório, no início de outubro, sobre a situação dos abusos sexuais em França, que concluiu que mais de 300 mil menores foram abusados e agredidos em instituições da Igreja Católica francesa durante 70 anos, entre 1950 e 2020, responsabilizando diretamente clérigos e religiosos por 216 mil vítimas.
O documento de 2.500 páginas identifica cerca de 3.000 abusadores – dois terços dos quais padres – que trabalharam na Igreja francesa durante aquele período.
O episcopado francês expressou “vergonha” e um pedido de “perdão” às vítimas dos crimes de pedofilia, logo após a divulgação do documento.
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